Paulo Martins no JN:
A "ajuda" chinesa simboliza toda a mudança em curso, que o pragmatismo político absorve sem ignorar. Nesta planetária sala de negócios, nem em surdina se fala em direitos humanos, quando se fala com a China. O capitalismo, quando é de Estado, até pode chamar-se comunismo que ninguém se incomoda. Se a China já detém a maior fatia da dívida dos Estados Unidos, por que há-de Portugal armar-se em paladino da democracia?
Em Novembro, na célebre entrevista ao "Expresso" em que preconizou uma "grande coligação" para o país, o ministro dos Negócios Estrangeiros deu o mote. Disse Luís Amado, sem pruridos: "É um erro sério que as decisões políticas sejam tomadas em função das preocupações das ONG ou da comunicação social". Esses chatos, que persistem em fazer denúncias perturbadoras do bom entendimento entre nações...
Não querendo cometer "erros" no relacionamento com a China, os países ditos ocidentais vão vendendo a alma aos bocadinhos (e a baixo preço, ainda por cima). Se há uns tempos se alvitrava a hipótese de exigir a Pequim fábricas menos poluentes, direitos laborais e salários decentes, agora nem isso. Nivela-se tudo por baixo; Europa e EUA imitam a China. Quando acordarmos, perceberemos que essa potência "emergente", afinal, nos submerge a todos. Nesse momento, a "competitividade" estará assegurada, a troco de patacos. Não deixaremos é de ter necessidade de pedir "ajuda" à China.
(publicado também aqui)
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