Dois problemas maiores de qualquer acção de luta habitam, por regra, nas tentações na hora do seu balanço. É a da chapa gasta dos burocratas louvaminhas que coleccionam "sucessos da luta de classes" como se fossem cromos da bola. Também a dos cépticos sistemáticos que pedem mais além de mais. Assim, um balanço de uma greve geral é um apelo irresistível aos semeadores de lugares comuns e de estereótipos. Contra a corrente, o Rui Bebiano apresentou um conjunto de notas de reflexão sobre a greve geral de ontem que merecem serem fios para discussão.
O melhor da greve geral foi o envolvimento de novos sectores laborais normalmente relapsos a participarem neste tipo de iniciativa. Factor positivo, a que nem o empolamento cretino dos “mais de três milhões de grevistas” retira significado. Tanto mais que foi evidente que a greve geral se não foi máxima no sector público foi, isso sim, mínima no sector privado. E se revelou novas disposições de participação e luta, também salientou a forma enraizada como estão acantonadas as resistências à luta e à partilha de esperança em efeitos de mudança (a esquerda revolucionária e os sindicatos continuam incapazes de indicarem alternativas e muito menos de as construirem). E é por esta minha interpretação da semi-decepção na ressaca sobre a greve que julgo que o Rui Bebiano onde viu limitações por ausência de acções complementares (dando visibilidade e participação pública ao evento) ao acto grevista propriamente dito elevou as suas expectativas acima das possibilidades pelas limitações da greve em si mesma. As insuficiências estiveram “dentro da greve” e não por esta “não ter saído à rua”.
(publicado também aqui)
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