A última grande purga sanguinária de Stalin, em estado terminal de paranóia assassina, foi exercida contra o abundante e qualificado corpo médico que o tratava. Denominada “conspiração das batas brancas”, Stalin meteu na prisão para tortura e fuzilamento todos os médicos que durante largos anos lhe cuidaram da saúde, atribuindo-lhes, pelos achaques revelados na sua velhice, o intuito conspirativo de o matarem. E como uma parte dos seus médicos assistentes era constituída por russos judeus, a sangria programada serviu para alimentar complementarmente o antisemitismo que caracterizou a última fase do estalinismo (quando o ódio ao Estado de Israel substituiu o anterior apadrinhamento soviético ao reconhecimento deste Estado na ONU, em que a URSS foi o primeiro patrocinador). Deste modo, a programada razia de vidas dos da “conspiração médica” era oficialmente interpretada como uma forma de jugular uma pretensa “conspiração sionista” que se estaria a servir-se de médicos judeus para assassinar os dirigentes soviéticos (a “conspiração das batas brancas” foi apresentada como não só querendo assassinar Stalin como antes teria liquidado o escritor Máximo Gorki e o alto dirigente Jdanov, putativo sucessor de Stalin na chefia do Kremlin). O paradoxo desta situação resultou em que quando se agravou o estado de saúde de Stalin (e que o levaria à agonia), em 1953, faltaram-lhe médicos competentes para lhe acudirem e foi demasiado tarde quando trouxeram apressadamente das câmaras de tortura de Lubianka os médicos judeus aprisionados à espera de fuzilamento. As execuções dos médicos não se concretizaram devido à morte de Stalin e acabou por ser Béria (o grande chefe policial de Stalin) a ocupar-lhes o lugar junto à parede dos fuzilados.
A hipótese de haver uma má sina marxista-leninista na relação entre os ditadores e os seus cuidados médicos, alimenta-se agora com esta notícia de El País:
“Una grave infección en el intestino grueso, al menos tres operaciones fallidas y varias complicaciones mantienen al dictador cubano, Fidel Castro, postrado con pronóstico muy grave, según fuentes médicas del hospital Gregorio Marañón de Madrid. En este centro trabaja José Luis García Sabrido, jefe del servicio de Cirugía, que viajó a visitar a Fidel Castro en diciembre pasado.”
Se Fidel Castro padece sobretudo pela incompetência dos serviços médicos especiais cubanos que o tratam, tanto que precisaram de recorrer, por SOS, a um médico cirurgião espanhol, então lá se esboroa a propagandeada grandeza dos serviços de assistência médica em Cuba e que tem servido de desculpabilizante (a par da educação) da tirania das Caraíbas. Assim sendo com Fidel, o que pode esperar o simples cidadão cubano ou aqueles que recebem a “ajuda internacionalista médico-cubana”?
Mas se Fidel recupera a saúde e o mando, mercê da “ajuda médica espanhola”, cuidem-se os muitos milhares de médicos cubanos, grande parte deles exportados para brilho do esplendor da Revolução Cubana. Porque Cuba está cheia de prisões e câmaras de tortura. Terão lá lugares disponíveis, bastando “provar-se” que, apesar de médicos revolucionários, não passam de agentes da CIA (ou da Mossad, para não haver desvio na linha antisemita do esquerdismo anti-imperialista mundial com tempero de nostalgia neo-bolchevique e cuja carcaça foi forjada na propaganda por Stalin).
Imagem: Enfermaria do Hospital de Banes (Cuba)
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