Não, não é vontade de repisar o pisado. Apenas um gozo a ferver baixinho, mas a ferver, de, encerrado o ciclo do festival do futebol inter-nacionalista, empanturrada que está La Roja de comemorações que já ninguém se atreve a prolongar (e que na fase final já deram para o torto com os do Barça a quererem afirmar-se acima da selecção), ver regressar em força a essência do futebol, o futebol dos clubes. Ou seja, a passagem da circunstância e do ritual patriótico para a força da paixão bruta, a mais genuína e intensa no futebol. E tanto que um adepto a sério se dispõe a – simbolicamente – morrer por ela. Porque é isso que acontece todos os anos nos estádios, jogo a jogo, um tipo entra e senta-se em estado morto, umas vezes como morto desanimado e outras como morto confiante, depois só os golos e as vitórias o trazem de volta à vida. Caso contrário, leva o seu cemitério interior para casa. Não há hino nacional que consiga uma e outra coisa. No mínimo, há uma distância de solenidade que não o permite, além de outras inibições (a mim basta-me que Cavaco seja um dos símbolos da soberania portuguesa para engalinhar com esta, onde quer que se manifeste). Mas com o clube tudo se rompe e se mistura - a cor, o emblema, os cânticos, os cachecois, a ilusão de que estamos em comunhão com os nossos. Transformando, quantas vezes, o incréu mais desconvicto no místico mais exuberante.
(publicado também aqui)
OS MEUS BLOGS ANTERIORES:
Bota Acima (no blogger.br) (Setembro 2003 / Fevereiro 2004) - já web-apagado pelo servidor.
Bota Acima (Fevereiro 2004 a Novembro 2004)
Água Lisa 1 (Setembro 2004 a Fevereiro 2005)
Água Lisa 2 (Fevereiro 2005 a Junho 2005)
Água Lisa 3 (Junho 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 4 (Outubro 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 5 (Dezembro 2005 a Março 2006)