Manuel António Pina, no JN:
Parece que foi muito aplaudida nas Jornadas Parlamentares do PS a intervenção de Mário Soares criticando a inexistência de debate interno no PS e defendendo ser indispensável dar "vida interna" ao partido e insuflar-lhe "princípios éticos" e "ideologia", tudo coisas ("vida interna", "princípios éticos" e "ideologia") de que o PS andará, pelos vistos, carente. De acordo com o que veio nos jornais, no final, deputados e militantes socialistas aplaudiram o discurso de pé. Singular não é o facto de o discurso ter sido aplaudido de pé pela ilustre deputação presente, pois aplaudir de pé é um hábito que se enraizou no PS. Singular, para lá da alusão de Soares a coisas antiquadas como "princípios éticos" e "ideologia", é o modo como, no actual PS, até a crítica ao unanimismo suscita aplausos unânimes e a crítica ao acriticismo é aceite sem o mínimo sobressalto crítico. Não é difícil concluir que, se Soares tivesse dito exactamente o contrário do que disse (atirando-se, por exemplo, aos que clamam que há falta de debate interno e de princípios éticos no PS), teria sido do mesmo modo aplaudido de pé.
É conhecido este vício unanimista dos que não passam sem uma boa dose de aprovações por unanimidade e aclamação, o tempero das sensações pedidas de unidade e eficácia, no pensamento e na acção, cimentando o "nós". O problema é o significado efectivo dos rituais. Ceauscescu, momentos antes de cair, fora aclamado de pé durante largas dezenas de minutos. E foi derrubado a seguir e durante uma manifestação que se pretendia fosse em seu apoio e exaltação. O que não impede, morto Ceauscescu, que se (re)organizem os saudosos dos tempos em que Ele era aplaudido (de pé):
O novo Partido Comunista Romeno (PCR) realizou, sábado, 3, em Bucareste o seu congresso fundador que reuniu mais de 400 delegados e convidados.
(publicado também aqui)
Num sentido restrito, se vc fosse romeno, mesmo que não se comportasse como faz na blogosfera - armado em clandestino com uma burka do anonimato -, não poderia votar no PCR porque a lei na Roménia não permite "a propaganda de ideias totalitárias de natureza fascista, comunista, racista ou qualquer organização terrorista". Num sentido lato, claro que pode (eu diria: deve) lutar pelo socialismo, aqui ou na Roménia. De preferência, acrescento, de cara descoberta e tendo aprendido e ajudando-nos a aprender com a história a não querer que se repita a monstruosidade criminosa daquilo que sadicamente chamaram de "socialismo real". A menos que o "anónimo" seja um reformado envergonhado da Securitate, porque se for esse o caso deve prestar primeiro contas pelos seus crimes, antes do direito a lutar pelo socialismo.
De Anónimo a 10 de Julho de 2010
Interessante o comentário da burka. Faço-o e continuarei a fazê-lo enquanto me for permitido; é um debate que tenho seguido com interesse esse debate na blogosfera, no seguimento da lei fascista francesa. No dia em que não aceitar os comentários anónimos, assinarei Luís Fonseca ou João Oliveira, se isso lhe fizer assim tanta diferença. Continuo a pensar que é bastante mais produtivo julgar uma ideia por ela própria do que associar-lhe, ainda que involuntariamente, todo o histórico de quem a escreve, que mais não serve para levantar poeira à volta do que se quer dizer.
Quanto ao que me responde sobre comunismo e Roménia, perdi-me logo no início: a lei não permite votar no partido comunista, apesar de ele ter reaparecido das cinzas do partido socialista? Este não poderá ser "comunista"?, defender nacionalizações, etc? Isto é, onde acaba, ou onde decide o juíz que acaba, a fronteira entre o partido "comunista" e o partido "socialista"?
A primeira parte não volto a comentá-la. Eu sei que, em sociedade, se tem de conviver com todos, incluindo os cobardes, o que não implica gostar deles.
Quanto à segunda, o melhor é questionar um blogger romeno. A língua deles tb é latina, com um esforço consegue-se comunicar com eles, mesmo os não poliglotas.
De Anónimo a 10 de Julho de 2010
Concluindo, não tem bem a certeza se "não poderia votar no PCR porque a lei na Roménia não permite "a propaganda de ideias totalitárias de natureza fascista, comunista, racista ou qualquer organização terrorista"" ou a que nível isso acontece. Vou tentar um blog romeno. E não se chateie com isso da cobardia. Se assinar "Carlos Vidal" já interpreta toda a conversa de outra maneira, ou não?
Mas a lei de interdição da legalização (quanto mais ida a votos) do PCR é invocada na notícia do "Avante" que linkei... Siga-o e verifique. Como duvidar da imprensa de um partido irmão do PCR?
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