Mesmo o que parece fixo se move. Admirou-me, aprendi e gostei ao ver aqueles militantes de antes quebrar que torcer a chamarem-lhe camarada no adeus a Saramago. O mesmo camarada que, pouco antes de 89, proclamou publicamente, numa Feira do Livro de Frankfurt, a necessidade da ditadura checoslovaca de então libertar Vaclav Havel da prisão; que foi empurrado para fora da presidência da Assembleia Municipal de Lisboa quando dissidiu; que disse a Fidel, perante a sua orgia senil de repressão, que deixava de ser seu companheiro de jornadas; que repudiou a fraternidade com as FARC; que apoiou Zapatero e António Costa nas suas apostas eleitorais; que foi solidário com Garzón. Ali, um camarada Nobel não sofre a erosão do carinho militante, enquanto fôr património. Saramago foi uma espécie de camarada Galileu. Portanto: “contudo, move-se”.
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