António Barreto é um académico decadente. Provou-o quando veiculou publicamente uma calúnia mal forjada sobre o almirante Rosa Coutinho. E esse acto infame é daqueles que desqualificam irremediavelmente um intelectual. Quanto a ser promovido a orador de sapiência na cerimónia oficial do 10 de Junho deste ano, a culpa já não é sua, é do seu patrocinador.
Mas tudo se torna mais complicado quando um académico decadente ora assim:
Um antigo combatente não pode ser tratado de "colonialista", "fascista" ou "revolucionário", mas simplesmente "soldado português", pediu o presidente da Comissão das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
António Barreto, porque se exilou politicamente quando da ditadura, sendo então militante do PCP, não fez a guerra colonial. Se ficou “livre nas sortes”, foi refractário ou desertor, não vem ao caso. De qualquer das formas, nenhuma das suas opções ou consequência das circunstâncias, não tendo ele sido um “combatente”, o qualifica como doutrinador sobre os “antigos combatentes”. Muito menos com capacidade de uniformizar diferenças que não foram poucas e a memória não permite esquecê-las. Entre as centenas de milhar de “soldados portugueses” que fizeram as guerras coloniais, houve quem as fizesse com gosto ou convicção, quem cometesse crimes de guerra, quem as fez como fatalidade do destino traçado, quem as fizesse lutando contra elas, quem por causa delas fizesse uma revolução que nos libertou do fascismo e do colonialismo. E houve, não poucos, os que optaram pela deserção para não se envolverem em guerras que repudiavam. Assim, a fórmula unificadora do “soldado português” que Barreto pretendeu distribuir para todos os antigos combatentes, embora sob o intuito patriótico politicamente correcto, não satisfaz, não pode satisfazer, as diferenças abissais entre gregos e troianos. É que eu não me revejo nos comandos de Wiriamu ou nos fuzileiros do “Mar Verde”. Como estes, mais que certo, não lamentam a minha prisão no Pelundo (Guiné) por me rebelar contra uma ordem militarista e muito menos se dispõem a cumprimentar os que desertaram. Uniformizar diferenças é estultícia, mais grave se vier de um sociólogo de renome e com galões de pompa e circunstância. Nem desculpável é o atrevimento doutrinal por provir de alguém que se desqualificara, antes, como académico decadente. Fica a petulância, essa sim condigna com aquela espécie de comemoração.
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