Quinta-feira, 10 de Junho de 2010
António Barreto é um académico decadente. Provou-o quando veiculou publicamente uma calúnia mal forjada sobre o almirante Rosa Coutinho. E esse acto infame é daqueles que desqualificam irremediavelmente um intelectual. Quanto a ser promovido a orador de sapiência na cerimónia oficial do 10 de Junho deste ano, a culpa já não é sua, é do seu patrocinador.
Mas tudo se torna mais complicado quando um académico decadente ora assim:
Um antigo combatente não pode ser tratado de "colonialista", "fascista" ou "revolucionário", mas simplesmente "soldado português", pediu o presidente da Comissão das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
António Barreto, porque se exilou politicamente quando da ditadura, sendo então militante do PCP, não fez a guerra colonial. Se ficou “livre nas sortes”, foi refractário ou desertor, não vem ao caso. De qualquer das formas, nenhuma das suas opções ou consequência das circunstâncias, não tendo ele sido um “combatente”, o qualifica como doutrinador sobre os “antigos combatentes”. Muito menos com capacidade de uniformizar diferenças que não foram poucas e a memória não permite esquecê-las. Entre as centenas de milhar de “soldados portugueses” que fizeram as guerras coloniais, houve quem as fizesse com gosto ou convicção, quem cometesse crimes de guerra, quem as fez como fatalidade do destino traçado, quem as fizesse lutando contra elas, quem por causa delas fizesse uma revolução que nos libertou do fascismo e do colonialismo. E houve, não poucos, os que optaram pela deserção para não se envolverem em guerras que repudiavam. Assim, a fórmula unificadora do “soldado português” que Barreto pretendeu distribuir para todos os antigos combatentes, embora sob o intuito patriótico politicamente correcto, não satisfaz, não pode satisfazer, as diferenças abissais entre gregos e troianos. É que eu não me revejo nos comandos de Wiriamu ou nos fuzileiros do “Mar Verde”. Como estes, mais que certo, não lamentam a minha prisão no Pelundo (Guiné) por me rebelar contra uma ordem militarista e muito menos se dispõem a cumprimentar os que desertaram. Uniformizar diferenças é estultícia, mais grave se vier de um sociólogo de renome e com galões de pompa e circunstância. Nem desculpável é o atrevimento doutrinal por provir de alguém que se desqualificara, antes, como académico decadente. Fica a petulância, essa sim condigna com aquela espécie de comemoração.
(publicado também aqui)
Pois, já tinha aqui vindo à procura disto ou algo de semelhante. Sabia que não falharias.
Abraço
Se calhar, Joana, até ultrapassei o teu cenário mais radical...
Hoje deu-me para aqui, ontem adormeci vermelho vivo e hoje acordei vermelho vermelhão.
E olha, com o Daniel a querer entrar na dança, então é que o caldo se entorna.
Inteiramente de acordo consigo!
AMP, ex-combatente à força, que só não desertou por falta de jeito ou de quem desse um jeito.
Mas continua. Agora é o bloquista Daniel a por-se a jeito...
De Ana Paula Fitas a 11 de Junho de 2010
Obrigado por mais esta desmistificação da tendência do regime insistir na infundada construção de mitos que mais não fazem do que promover a demagogia como instrumento de manipulação para o cumprimento de duvidosos objectivos a que, pela sua própria natureza, demasiada gente se presta...
Abraço.
Caríssima, quando fala de "tendência do regime" integra nela o Daniel Oliveira? Muito me conta.
De ex-combatente algarvio a 11 de Junho de 2010
Sr. João Tunes
Gostei do seu post. Diz verdades nas quais eu me revejo. Também fui combatente à força, como Furriel Mil., e estive no Bachile em 72/73, bem perto do Pelundo. Quanto ao discurso deste sr. Barreto, acho que ele, mais uma vez, nos está a querer "enfiar o barrete"! Ele foi durante anos deputado, e até ministro, e não me consta que, alguma vez, tivesse sugerido o quer que fosse para melhoria de vida dos ex-combatentes.
Ao longo destes 36 anos, que nos separam do 25 de Abril, nem PS, nem PSD, que têm sido alternadamente, e até em conjunto, Governo de Portugal, fizeram alguma coisa pela dignidade dos ex-combatentes.
Eu sou o exemplo do desrespeito que o Estado tem pelos ex-combatentes. Com 60 anos de idade e após uma carreira contributiva de 41 anos, no sector automóvel, sem nunca ter dado uma baixa médica, caí no desemprego, auferindo um subsídio de 440 euros. Procurei trabalho durante 6 meses conforme mandam as regras do Instituto de Emprego. Todos os meses tinha que ir pelo menos a 3 empresas pedir trabalho e solicitar que me confirmassem esse meu pedido através de carimbo da respectiva empresa. Fui humilhado, vexado, e objecto de gozo. Os que me conheciam diziam: "também já chegaste a isto"? Os que não me conheciam faziam-me esperar tempo infinito para me atender e depois argumentavam que os patrões ou chefes não estavam, e que não tinham autorização para colocar carimbos. Ao fim de seis meses desesperei e cansei-me de mais esta guerra, que tinha para cumprir ainda cerca de 30 meses. Consegui sobreviver à Guerra do Ultramar mas a esta não sobreviria se continuasse neste desgaste psicológico, porque a idade é outra e o cansaço já é muito. Solicitei a reforma a partir de 01/06/2010, atingi os 61 anos de idade e 42 de carreira contributiva, foi-me atribuida a pensão de 536 euros. QUE VERGONHA PARA UM EX-COMBATENTE...!!! E DEVERIA SER TAMBÉM VERGONHA PARA ESTE PAíS!!! Mal chega para a sobrevivência de qualquer ser humano.
Se tivesse conseguido esperar mais 30 meses reformar-me-ía com cerca de 650 euros.
Se o Estado abulisse a penalização nas pensões dos ex-combatentes da Guerra Colonial, com mais de 60 anos de idade e 40 de descontos, seria uma prova de respeito pelos ex-combatentes, que deram o melhor das suas vidas em nome do que lhes diziam ser a Pátria e que tão maltratados têm sido por essa mesma Pátria.
Os meus cumprimentos ao Sr. João Tunes e o meu agradecimento por me permitir este desabafo.
B. P.
Obrigado pelo seu depoimento. Ele demonstra o que há para corrigir no tratamento dos ex-combatentes. E, para isso, não é preciso reescrever ou uniformizar a história.
Decadente, falhado e, sobretudo, um BABOSO. Tenho asco desta velha e relha "intelectualidade" portuguesa. Toda! Excepção feita, claro, a Eduardo Lourenço. Não servem para nada...
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