Trinta e cinco anos passados e tanto e quanto mudou. Era revolução e contra-revolução, hoje é democracia para quase todos e mais alguns, os que regrediram para os “benefícios” da ditadura ou os que se fixaram na preferência pela revolução. E falar-se de esquerda ou direita (centro era coisa que não existia, a não ser na retórica dos dissimulados), como hoje se fala, recuando esses trinta e cinco anos, falaríamos de posicionamentos bem diferentes. Ser-se de esquerda era acelerar a locomotiva, servindo todos os pretextos, ganhando poder. Ser-se de direita era conspirar, atirar bombas, travar de qualquer maneira e feitio. Cada qual contando mais espingardas que argumentos. A direita, onde pesava a extrema-direita (entretanto, praticamente desaparecida), levou para o tabaco entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975. Sem esses arraiais, não teríamos hoje esta democracia de herança. Depois, a “vingança” do 25 de Novembro, sobretudo o “compromisso” que se seguiu, deu na normalização democrática, a de base parlamentar. E, neste sentido, essa derrota da esquerda foi tão importante, sobretudo ao nível do simbólico, na medida em que liquidou a tensão bipolar entre democracia e revolução/contra-revolução que contaminava o discurso político, como tinham sido os “avanços” verificados no 28 de Setembro (1974) e no 11 de Março (1975). E isto podia ser dito pela ordem inversa, o resultado teria o mesmo significado. É neste conjunto de peças-chave, na sua sequência e encadeado, todas imbrincadas umas nas outras, nenhuma apontável como estando a mais, em que assenta o patamar da democracia a que chegámos, insuficiente mas suficientemente estimável para poder ser desvalorizada, pois que, goste-se ou não, é para isto, por isto, que uma ditadura deve cair.