
Para que serve o dinheiro recolhido pelas congregações e confrarias da Semana Santa tão difundidas em Espanha? Sobretudo para desfiles de encapuçados e carrego mortificante de andores múltiplos e pesadíssimos, repartindo castigos colectivos espalhados pelos séculos devido ao martírio de Cristo. Já assisti a alguns e tropecei em ainda mais nos acasos em que me deu para passear por Espanha durante a Semana Santa. Esta é sempre uma semana sombria e masoquista em Espanha, um resquício poderoso e partilhado desde quando a Igreja, com Franco, ressuscitando as marchas do Santo Ofício, se transformou numa espécie de Ku-Klux-Kan de Estado-Altar e que a “transição” não beliscou. Para alegria de recomposição de muitos hoteleiros portugueses, muitos são os espanhóis que, aproveitam as férias fartas da Semana Santa no seu país, invadem Portugal, trocando uma escapadela a preços módicos pela mortificação dos seus patrícios que lavam pecados anuais com desfiles de encapuçados.
O pároco Samuel Martín Martín, com 27 anos de idade e subordinado do Arcebispo de Toledo, provavelmente um indeciso impotente entre o apelo mórbido do sofrimento das congregações e confrarias e o de rumar a Sesimbra ou Algarve, preguiçando no sol, mar e peixe fresco grelhado, deu-lhe para o erotismo escapista de voyeur, o alimento dos masturbatórios clandestinos, por opção ou condição. E vai daí, foi-se à caixa das congregações e confrarias da Semana Santa e esbanjou 17.000 euros em ligações a linhas telefónicas eróticas e páginas pornográficas da Internet. Digamos que, pelo valor do gasto, foi um fartote para consolar a líbido reprimida do jovem cura. Que, por efeito de colapso de tesouraria, vai ser pago em falhas de carapuços e andores, num desvio contabilístico de mortificação para gozo erótico de um padre em apuros sexuais com carácter de urgência (quase me apetecia citar Daniel Filipe, mas nem tanto ao mar nem tanto á terra). Quem não esteve pelos ajustes foi Braulio Rodríguez, o Arcebispo de Toledo, expedito a punir o pároco voyeur com inibição do exercício do seu ministério sacerdotal, paroquial e educativo. Para o Arcebispo, os carapuços, os desfiles e os andores mortificantes são mais valiosos e neutralizadores que a descarga da líbido espartilhada nas sotainas. E manda quem pode.