A baía de Sesimbra estava quieta como sempre. A que primeiro nos traz a beleza e depois chateia pela monotonia, furtando-se no momento das sortes quando procuramos a nobreza do bravo. Que me lembre, sempre olhei Sesimbra assim. A natureza, ali, aprimorou-se na aguarela mas, passada meia hora, apetece-me correr para Espichel para encher os olhos de mar sincero que recusa jaula de aquário. Há já muitos anos que Sesimbra é assim para mim: uma atracção irrecusável, um banho rápido na limpeza dos olhos e, vencida a preguiça acicatada no gosto pelo azul, degustado o bom peixe da praxe, ala moço que aquilo é terapia para pacientes maníacos do bonito em spa paisagístico rodeado de tijolo e cimento pendurada nas falésias, mais próprio para férias de famílias de construtores civis, hoteleiros, agentes imobiliários e famílias da média sem filhos amantes do surf. Como em tudo, só o vivo reconforta e equilibra o quieto do natural petrificado. Os salmonetes estavam divinais, o Alvarinho portou-se bem e a conversa animada e posta em dia deu vida à aguarela, pescando numa amizade em construção. Não me lembro de, antes, a beleza de Sesimbra me ter posto, assim, isento de um ataque de nervos. Ao contrário, saí dela agarrado a uma gaivota feita de abraços de amigo.
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