Tudo se encontra nem que seja no infinito. Mas, por norma, antes. Quando do anúncio da composição do actual governo, o então presidente da CIP, conhecido como ocupando a função de “patrão dos patrões”, deu um grito público de pânico perante o mau prenúncio de uma “sindicalista” ocupar o cargo de ministra do trabalho no governo “relativo” de Sócrates, Helena André (a qual, como se fosse noviça nas questões laborais, confessou a sua enorme surpresa com a dimensão do número de desempregados em Portugal). Mas Francisco van Zeller, demonstrando um bom jogo de cintura patronal perante as ofensivas sindicalistas de Sócrates-UGT, passou rapidamente do escândalo à manha, transferindo a pasta da presidência da CIP para um herdeiro com um passado também ele dedicado ao serviço da classe operária, tendo sindicalizado na Lisnave, nada menos que o ex-serralheiro mecânico António Saraiva. Se à frente dos sindicatos ainda estiverem sindicalistas (decerto que estão, a menos que, para fintarem governo e patrões e tudo baralhando, fazendo boomerang, os sindicatos tenham passado a ser dirigidos por patrões), temos um estranho e irónico Conselho de Concertação Social, com três experientes sindicalistas, do passado ou do presente, a chefiarem as três partes (governo-patrões-sindicatos) do triângulo da dinâmica laboral. O que dá uma aparência exoticamente soviética à instituição que é pilar da gestão da paz social e num país regido pela economia de mercado. Para já, da confluência cúmplice e camarada, de facto ou prospectivamente, as oratórias vão-se aproximando: enquanto Helena André apela a que se “refresquem” as apreciações sobre o desemprego (que demonstra ao assegurar que “o desemprego vai continuar a aumentar até que desça”), António Saraiva apela a que se “congelem” os salários. Sintomático é que estes sindicalistas, um despromovido a patrão e a outra a ministra, não fazem esquecer que a paz social está agora entregue a sindicalistas vindos do frio. Brrrrr...
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