Acabo de ver imagens do Haiti. Tento aproximar-me daquele drama e dou comigo a dar-me vontade de vomitar as entranhas e encolher-me a ponto de me reduzir à insignificância mínima do ser humano. Reforço o meu ateísmo, confirmando que, se deus existisse, um dos últimos povos que castigaria seria o do Haiti e daquela forma, e isso nada me resolve e muito menos aos haitianos a quem pouco mais resta que rezarem. Oiço que o melhor que o governo português - o meu governo - conseguiu foi mandar um C-130 e confirmo a noção que já tinha do socratismo assistencialista que nunca ultrapassa a dimensão do acto simbólico para passar no telejornal. Mas, mesmo nisso, ultrapassado pela malta do Leixões que tenta amparar, o melhor que sabe, merecendo só por isso amealhar vitórias nos próximos três jogos, um colega jogador haitiano que veste riscas de vermelho e branco e chora por não ter notícias da família. Oiço o discurso grande de Obama seguido da sua acção e admiro-me como, mesmo na maior das desgraças, a esperança continua a ser ou imperialista ou não ter lugar para morar. Mas o pior de tudo, para mim, é verificar que, perante o drama do Haiti de cuja realidade nos vamos aproximando e que nos anuncia uma realidade insuportável, não escapei à miséria do mundo testada com aquele sismo de grau 7, como se comprova por este post que me envergonha, uma obscenidade perante quem, em Port-au-Prince, esgravata pedras a tentar salvar respirações de pessoas.
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