Domingo, 27 de Dezembro de 2009

Uma Placa escondida e … o resto

 

Um post de Miguel Cardina para assinar por baixo:
 

Uma acção de protesto realizada a 5 de Outubro de 2005 frente à antiga sede da PIDE/DGS, em Lisboa, marcou a criação do movimento cívico Não Apaguem a Memória (NAM), posteriormente transformado em associação. Tratava-se então de impedir a construção de um condomínio de luxo nesse edifício da rua António Maria Cardoso. A verdade é que o condomínio acabou mesmo por avançar. Mais tarde, e alegadamente por motivos de obras, a placa evocativa das últimas vítimas da PIDE/DGS foi retirada pela GEF – Gestão de Fundos Imobiliários, SA. Após pressão do NAM, a placa foi agora recolocada da forma que a Joana Lopes indica e a foto tão bem ilustra: à altura da cintura, tapada pelos carros e sem qualquer ângulo de leitura. A indignação pode ser directamente canalizada para gef@gef.pt. Mas guardem alguma para o que der e vier. É que alguma coisa está mal num país que aprova em 2008 uma resolução que vincula o Estado ao «dever de memória» e depois convive com placas desaparecidas, antigas cadeias políticas em vias de se transformarem em pousadas de luxo e museus e arquivos sem dinheiro para funcionar.

 

Nota: Quem quiser engrossar os protestos contra a atitude da imobiliária do luxo obsceno deve, para já e no imediato, enviar mail dirigido a gef@gef.pt exigindo que a placa seja recolocada no seu espaço original e com a dignidade que lhe é devida. Eu, como muitos outros, já o fiz (*). Juntem-se mais, cada qual com o seu sentir, aos que se recusam que Portugal seja habitado por um povo sem memória nem história. 

 

(*) Assinei o seguinte texto:

 

Ex.mos Senhores,

Sou um dos muitos milhares de cidadãos que atravessaram os portões do agora condomínio de luxo quando esse edifíco, no tempo da ditadura, servia de antro policial onde se prendiam, torturavam e assassinavam os que lutavam para que a liberdade e a democracia fossem bens comuns e vulgares no nosso país. Para um povo adulto, com história e memória, para qualquer cidadão decente, esse espaço, marcado pela ignomínia do livre arbítrio de criminosos que então faziam lei, devia merecer, no mínimo, respeito para com as vítimas dos esbirros da ditadura.

A vossa atitude de primeiro retirarem a placa evocando as últimas vítimas da PIDE e depois, acintosamente, a recolocarem "discretamente" de forma imperceptível, é um acto gratuito e ofensivo de prolongarem, agora ferindo a memória das vítimas, a acção da PIDE contra os combatentes pela liberdade. Nós, os que fomos vítimas da PIDE e todos os que não querem que Portugal seja habitado por um povo sem história nem memória, não vamos ficar calados nem inactivos. De todas as formas pacíficas e cívicas, mas decididas, não calaremos o nosso protesto nem a denúncia sobre as forma cínica como hoje pretendem fazer esquecer e branquear a PIDE e os seus crimes. Contem com isso, para vossa reflexão. A vossa ganância pelo lucro não pode, não vai, quebrar a defesa da história da liberdade neste país que implica a recordação para as gerações mais novas, do terror e da opressão que, durante décadas, nos oprimiu.

Com os melhores cumprimentos.

Publicado por João Tunes às 16:54
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24 comentários:
De Ana Paula Fitas a 27 de Dezembro de 2009
Claro que vou enviar o e-mail e fazer link deste post... Um grande abraço.
De Joana Lopes a 29 de Dezembro de 2009
Bom dia Ana Fitas,

Estou a pensar publicar nos «Caminhos...» mails que foram enviados à Imobiliária. Se estiver de acordo em colaborar, importa-se de enviar o texto do seu para: caminhosdamemoria@gmail.com

Obrigada
De Filipe a 28 de Dezembro de 2009
Pouca vergonha a de quem permitiu sequer que a construção fosse permitida.

Também enviarei um mail, apesar de achar que os mails são demasiado fáceis de apagar.

Mais alguma ideia de protesto João?
De João Tunes a 28 de Dezembro de 2009
Step by step. Iremos dando notícias. Entretanto, pode acompanhar aqui:
http://caminhosdamemoria.wordpress.com/
De Joana Lopes a 29 de Dezembro de 2009
Bom Dia,


Estou a pensar publicar nos «Caminhos...» mails que foram enviados à Imobiliária. Se estiver de acordo em colaborar, importa-se de enviar o texto do seu para: caminhosdamemoria@gmail.com

Obrigada
De Jonasnuts a 29 de Dezembro de 2009
Boa noite. Este post está em destaque na Homepage do SAPO.
De Anónimo a 29 de Dezembro de 2009
nada a fazer. mantem-se a verdade "eles comem tudo eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada" só mudaram os vampiros. até estou em crer que muitos dos que estão lá agora, se o regime não tem mudado, também la estavam. navegam em qualquer água.
De branquinho a 29 de Dezembro de 2009
vamos pintar as paredes para eles recordarem aquilo que nos nao esquecemos
De Raul Nobre a 29 de Dezembro de 2009
Eis a cópia do meu comentário, inserido há algum tempo no blog CidadaniaLx, a propósito do condomínio construído no local da sede da antiga P.I.D.E.
Raul Nobre disse...
Fico espantado com a rapidez que tiveram ao demolir o edifício da PIDE. Isto só põe em evidência o empenhamento existente na resolução do problema da falta de habitação para os grupos mais carenciados. Admiro como os proprietários foram sensíveis a esta questão e como os políticos souberam não criar entraves à demolição. Além disso essas histórias da PIDE não passam de pura invenção. Nunca ninguém sofreu torturas de sono ou estátua ou foi agredido ou foi assassinado. As pessoas detidas eram convidadas a prestar declarações, voluntáriamente,com refeições gratuitas e direito a transporte e alojamento também gratuito em Caxias para os que não viviam em Lisboa.Por isso aquela ideia de instalar ali um museu não fazia qualquer sentido. Assim, quando daqui a uns anos se falar nessa coisa da PIDE ninguém saberá o que isso era. Creio mesmo que nunca existiu qualquer polícia política. Acho mesmo que deveria ser proibido empregar essa palavra PIDE. Mas que é isso da PIDE? Qual PIDE? Agentes da PIDE? Inspectores da PIDE? Informadores da PIDE? Onde é que eles estão? Já os viram na rua? Há algum no vosso prédio?Nunca existiram!!! Devia mesmo ser proibido dizer que ali era o edifício da PIDE. Não houve lá nenhuma PIDE. E se volto a ouvir dizer essa palavra PIDE chamo os meus amigos Barbieri, Silva Pais, Rosa Casaco e mais uns tantos e eles tratam-vos da saúde. Levais com a matraca nos dedos dos pés e se continuam a dizer essa palavra (PIDE, PIDE, PIDE) eles vêm lá e arrancam-vos as unhas. É proibido falar na PIDE. Sigam o exemplo dos nossos governantes, dos nossos queridos líderes. Já os ouviram dizer essa palavra PIDE? Muito raramente.E em breve,nunca mais nenhum deles falará em PIDE. A propósito, aquele condomínio é um grande mamarracho.

De Tome a 29 de Dezembro de 2009
Naturalmente o condominio fui construidos para os novos P.I.D.E.S.
Senhores condominos tenham vergonha deapagar a historia.
De Carlos Patricio a 29 de Dezembro de 2009
É que alguma coisa está mal num país que aprova em 2008 uma resolução que vincula o Estado ao «dever de memória» e depois convive com placas desaparecidas, antigas cadeias políticas em vias de se transformarem em pousadas de luxo e museus e arquivos sem dinheiro para funcionar.


Li atentamente o seu texto e não sabia desta resolução que vincula o Estado ao «dever de memória»
Para quando, então a alteração do nome da Ponte 25 de Abril para o seu original nome "Ponte Salazar"?
De Anónimo a 29 de Dezembro de 2009
Não sei para que foi tanto esforço, para assistir a isto...
Fui militar de Abril e fiz parte da força Naval que tomou de assalto o referido edifício ocupado pela Pide, os que agoram pretendem branquear aquele sinistro corpo, deveriam ter visto o que nós vimos quando lá entrámos, certamente hoje teriam uma opinião diferente.
Mal empregado tempo e risco que se correu para agora ouvir atoardas destas de quem não mereceu o o nosso contributo á Pátria
De Anónimo a 29 de Dezembro de 2009
Tudo isto é triste...
Se porventura os alemães ou polacos destruissem os campos de exterminio(Vernichtungslager) de
Auschwitz e Birkenau ou outros, os nossos pseudo democratas k governam este país, já tinham leventado a voz para se fingirem indignados com a atitude.
Porém cá dentro, tudo fazem para apagar da memória colectiva aquilo que foi o antigo regime.
E só não estamos na situação de há 40 anos porque a internet existe, pois só com os media controlados como estão pelos grandes grupos económicos, bem que abafariam todas as situações atentatórias da dignidade humana.
Portugal precisa de um 25 de abril a SÉRIO.

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