Remexer em jornais e revistas antigas, às vezes até em papéis e fotografias no fundo da gaveta, dá um enorme gozo de espanto pelo efémero fútil com que as pessoas se encantam e desencantam, às vezes com uma bebedeira para animar, tendo feito figuras de que só resta acenar com uma risada de complacência. Válido para os outros e para nós, porque poucos se gabarão de serem tão rectilíneos que não tenham dado nunca, por nunca, uma pequena pirueta. E uma vida sem uma pirueta sequer pode estar santificada pela coerência mas deve ser chata como burro.

O Passado/Presente trouxe à mesa da memória uma velha página da revista Vida Mundial de Outubro de 1976. Que é um naco delicioso de lembrança dos outros tempos políticos (30 anos é muito tempo). A notícia refere-se a uma sessão de homenagem pública (800 presenças!) à veneranda figura de Mao Tsé Tung (já na altura ortografado como Mao Zedong).  Além dos promotores e sino-amigos [AOC e PCP (m-l)], lautas delegações do PS, do PPD, do CDS e de político-militares não faltaram à chamada ao culto do chefe-santo do vento leste. Ler os nomes das personalidades presentes e os resumos dos discursos pronunciados é um pretexto para uma bem disposta apreciação da moldura da passagem do tempo. Uma confirmação também de que a política é essencialmente a arte da passagem pelas circunstâncias. E só por isso é que ela raramente é ridícula no seu tempo. Depois sim, mas aí vale-nos sempre a ajuda da complacência através da regra que diz que o mundo é composto de mudança.