Descansar do marxismo-leninismo pelo “regresso” a Marx dá trabalho, muito. Como Jerónimo avisa: “Se O Capital, obra maior de Marx, exige de todos os que se entregam à sua leitura um grande esforço de compreensão, este Livro Segundo é de leitura particularmente difícil, onde, para lá da necessária disponibilidade para enfrentar a aridez da linguagem científica, se exige preparação, tempo e estudo sistematizado.”. Mas se ler e entender Marx apresenta o risco de fazer suar os militantes, Jerónimo lembra “Engels que deu um contributo inestimável para que O Capital chegasse até nós, e de seguida Lenine, que o adequou de forma criativa à realidade concreta do desenvolvimento do capitalismo na Rússia”. Tal como Estaline o fez no seu tempo e deixou a respectiva transposição como herança aos comunistas ortodoxos, Lenine, mas o Lenine filtrado por Estaline, é apontado como o adaptador prático-revolucionário da conceptualização de Marx. Mas mesmo Lenine, na sua vasta produção teórica, governamental e ditatorial, ainda é muita areia para a camioneta do militante em luta permanente. E, neste aspecto, poucos existirão com a mesma capacidade de Jerónimo para entender a bondade útil da preguiça teórica típica dos comunistas empenhados e alimentada pela permanente supremacia do tarefismo e do voluntarismo esquerdista-sindicalista da linha actual do PCP. E como entende as alergias a ler, aprender e saber dos seus seguidores, Jerónimo não hesita em facilitar-lhes a vida, indicando-lhes: “O que é relevante é a partir de Marx analisar a realidade dos nossos dias, procurando simultaneamente um enriquecimento criativo desses conceitos e métodos no seu confronto concreto com o que é novo e a aferição dos resultados com eles obtidos pela acção prática transformadora, pela acção revolucionária neles inspirada.”. Naturalmente, esta transposição que vem de Marx, passa por Lenine e desemboca na “prática transformadora” e na “acção revolucionária”, não é passível de ser feita individualmente ou num grupo de discussão. É, inevitavelmente, uma obra colectiva, do colectivo partidário regido pelo regulamentar centralismo democrático, sendo o mesmo que dizer confiar que a direcção do partido, cumprindo a linha do partido, traduza toda essa espiral teórica, confusa, datada e inspiradora em consignas práticas. Para desempenhar tarefas, descansando que serão, certamente, como garante Jerónimo, tarefas marxistas-leninistas. Dando o merecido e útil descanso nas estantes aos "tijolos" com as obras de Marx e outros patronos autorizados, editados porque sim.
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