
Num blogue marcadamente político, nada dado a devaneios e intimidades, quando se lê um post assim (com poucas horas de idade):
Não está escrito em lado nenhum que o biorritmo só cresce. Também desce. Hoje é o caso. Pronto. É questão de esperar. E recomeçar. Com a fotografia nova que recebi no telemóvel e que apaguei com o meu providencial jeito para as tecnologias. Vem outra a caminho, para a montanha russa recomeçar a subida até aos céus infinitos da eternidade.
os olhos e as orelhas metem-se na atenção da surpresa. Quando, hoje, a chave do enigma me veio pela rádio do automóvel, sintomaticamente quando eu me dirigia para o Estádio da Luz (para assistir a um jogo de basquetebol), fiquei siderado e emocionado. Com a estranha sensação de ter perdido um amigo que não cheguei a conhecer.
Eu nunca contactei pessoalmente o Jorge Ferreira. A memória do seu rosto vinha-me da lembrança de televisão quando ele liderava o grupo parlamentar do CDS. Muito menos o sabia doente. Pela forma assídua, regular e combativa como alimentava o seu blogue, supunha-o um político activo, embora situado na irrelevância marginal do PND, empenhado e com horizontes interventivos. Estava nas minhas antípodas políticas e ideológicas, embora partilhasse com ele a preferência pela democracia face a qualquer projecto de iluminação tirânica, a transparência versus opacidade corrupta de interesses instalados, o benfiquismo em que nunca nos entendemos. O “Tomar Partido” era minha visita diária e o Jorge Ferreira era um dos meus leitores mais assíduos. Trocámos picardias, remoques e divergências, sem que sequer o Glorioso, o nosso Glorioso, escapasse às nossas refregas. Mas sempre nos respeitámos, e, relevância maior, fomos, pelas divergências mais expostas, adquirindo não rancores mas uma web-estima tecida pela unidade dos contrários. Volta e meia, quando concordávamos num ponto, o que era raro, trocávamos a gentileza celebrante de o anotar, com a devida transcrição que era uma forma de bebermos um copo virtual.
Sei agora, no momento de desfecho e luto, sobretudo pelo magnífico depoimento do Pedro Correia, que o blogue de Jorge Ferreira fazia parte, desde a nascença, da sua estratégia de combate à doença e suas sequelas. Essa novidade só me faz sentir consolado por o ter animado com os duelos esquerda-direita que com ele teci. Tanto assim quanto me sinto inconsolado e inconsolável, agora, ao saber que não vou ler outro seu novo post. A esta angústia de perda não sei o que lhe fazer. Desajeitadamente, como é próprio de um desajeitado que estima mais um adversário político frontal e leal que um comparsa com interesses no cartão ou na algibeira, vou deixar o link do "Tomar Partido" onde está desde que dele tomei conhecimento. E mandar um abraço solidário de perda a quem é meu amigo e era amigo do Jorge Ferreira, ao João Carvalho Fernandes, supondo que não há maior elo de humanidade socializável que termos um amigo comum. Especialmente relevante quando se quebra um suporte de um tripé de estima partilhada.
É exactamente assim, João: "não há maior elo de humanidade socializável do que termos um amigo comum."
Um grande e comovido abraço.
De Ana Paula Fitas a 22 de Novembro de 2009
Obrigado pelo testemunho de uma generosidade maior do que os dias vão permitindo percepcionar, meu amigo... eu também não conheci Jorge Ferreira mas fui sua colega de blogue no Público-Eleições 2009 pelo que me é possível compreender e partilhar este sentir. Farei link deste post... naturalmente!
Um grande abraço
De Van Aerts a 21 de Novembro de 2009
Sinto-me comovido pelo seu post, Conheci o Jorge Ferreira pouco depois de entrar na JC isto já nos estretores da presidência de Manuel Monteiro e também o acompanhei na aventura que foi e que é o PND, nao obstante nunca chegámos a ser amigos chegados mas apesar disso lia-o todos os dias com um gosto verdadeiramente genuíno, alías ainda ontem nao tendo tido possibilidade de aceder á blogosfera mais do que dois minutos, fui onde habitualmente ia, a esta casa e ao tomar partido e foi aqui tive conhecimento do sucedido.
Essa amizade que Joao Tunes tinha com o Jorge Ferreira apesar de nao o ter conhecido fisicamente, para além de ser retribuída é das coisas mais puras e tremendas que a blogosfera pode oferecer e só um amigo lhe podia dedicar o post que publicou.
É sempre um lugar comum escrever-se o mesmo género de obituário quando a inevitabilidade aparece mas o nosso Jorge Ferreira era dos poucos políticos em que eu podia decididamente acreditar e porquê? Porque deu testemunho pessoal disso mesmo, porque nunca se vendeu, porque nunca teve preço, enfim, o Joao Carvalho Fernandes, o meu amigo Nuno Correia da Silva e outros que com ele trataram no PP sabem bem que isto é verdade.
Nao há volta a dar, é uma tristeza e ainda estou em choque, amanha o day after será ainda mais duro.
Os meus sentimentos à sua família e a todos os seus amigos e que Deus o guarde.
De
mdsol a 24 de Novembro de 2009
Texto tão bonito...
:)
Obrigado pela bela homenagem ao Jorge!
Um abraço
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