
Entendo Rui Bebiano quando diz que isto do “muro” já cansa. Como toda a razão têm Joana Lopes, Maria João Pires e José Simões em se indignarem com um artigo imbuído de xenofobia reles publicado no último “Avante” na tentativa de retirar legitimidade à indignação alemã pela vergonha do monstro murado caído há vinte anos.
O “Avante” não é, por muito que por vezes o pareça, um pasquim editado por um qualquer grupo radical e semi-clandestino formado por meia dúzia de extremistas degenerados. Independentemente do seu real nível de difusão, este jornal é editado, como “órgão central”, por um partido legal, com um importante património histórico e sacrificial, com audiência e influência e, sobretudo, representado na Assembleia da República com um grupo parlamentar constituído por treze deputados eleitos pelo povo português (e com mais dois lugares cedidos a uma ficção partidária sua aliada para constituir a “máscara CDU”). A que acresce a gestão de várias autarquias. Mais o controlo absoluto de uma central sindical e a maioria dos sindicatos. Por tudo isto, considerando o papel do PCP na vida democrática, o “Avante” tem deveres a cumprir não só perante o partido de que é propriedade e os seus militantes, mas também perante o povo português e a democracia, devendo cumprir as suas regras e princípios. Lamentável é, pois, que o “Avante” em vez de constituir um jornal partidário que, embora naturalmente seguindo o programa e a ideologia perfilhados pelo PCP, fosse um interveniente do debate democrático para mais e melhor democracia, mas que é, ao contrário e por vontade dos seus dirigentes, uma publicação que é um pólo da duplicidade do PCP perante a vida democrática e em dissonância permanente com o seu “pólo formal”, o das declarações públicas dos seus dirigentes, dos seus deputados, dos seus autarcas e dos seus sindicalistas. Ler o “Avante” é deparar com os estereótipos de um marxismo-leninismo de caverna e de caserna, a “expressão revolucionária” dos seus propósitos em que a democracia é um “tempo de espera” pelo momento revolucionário e um permanente estendal saudosista e revivalista do totalitarismo e dos crimes praticados onde o comunismo foi e é poder. E após se fechar o último ciclo eleitoral, a situação agravou-se. As decepções pelos resultados eleitorais (a manutenção de dois eurodeputados mas passagem a quarto partido, um deputado mais na AR mas queda para o quinto lugar com consequente diminuição de peso institucional, menos quatro câmaras na expressão autárquica) como corolário de uma luta intensa e constante movida ao anterior governo, constituindo assim um magro pecúlio após tanta agitação e tanta manifestação, levaram ao agravamento do sectarismo do PCP, à valorização do seu pendor revolucionário e desqualificação paralela da “via democrática”, a um reapego esquizofrénico com o “socialismo real” desmantelado, por vontade dos povos que o viveram, em 1989-91. Esquizofrenia esta que leva, inclusive, um alto dirigente do PCP (Ângelo Alves) a escrever no “Avante” que o Muro de Berlim não caiu (referindo-se ao Muro, AA diz a “chamada «queda do muro de Berlim»”). Desta degenerescência partidária, também visível na violência histérica - aqui, por regra, coberta pelo anonimato - da brigada brejnev na blogosfera, que aproxima o PCP da linguagem violenta dos grupos maoístas do tempo do PREC (então sobretudo usada contra o PCP), o “Avante” é o seu melhor espelho. Quem tiver estômago para dar uma volta ao último número, lendo os vários artigos de apego estalinista pode constatar que o pior ainda está para vir pela invisibilidade de sentido crítico perante a escalada sectária em que o PCP, zangado com os resultados eleitorais e a democracia, se está a deixar envolver. Não deixando de ter de se dar razão à historiadora Irene Pimentel que num comentário ao post atrás referido de Maria João Pires, escreveu:
“Tudo é repugnante e particularmente isto: «a burguesia alemã que ao longo da História tem recorrido sistematicamente ao militarismo, ao assassínio de democratas e revolucionários, ao trabalho escravo, inventou a industrialização da morte e o extermínio em massa nas câmaras de gás».”
“É por esta e por outras que não se deve contemporizar, como fazem alguns pseudo "distraídos", com gente que escreve isto.”
De José Manuel a 13 de Novembro de 2009
E com uma citação descontextualizada se manipula e distorce todo um artigo. Não estou a ver o que tenha de xenofobo o artigo.
A participação das grandes empresas alemãs na ascensão e consolidação do nazismo e dos campos de exterminio é um facto histórico. Ainda recentemente se discutia o problema das indemnizações às vítimas do trabalho escravo na Alemanha. O gás Zyclon-B, usado nas câmaras de gás era fabricado pela IG Farben. O grupo IG Farben era constituído por várias empresas nomeadamente a AGFA, BAYER, HOECHST, BASF e outras. A americana IBM também colaborou na organização destes campos. Outras empresas como a Siemens,Volkswagen e outras colaboraram neste processo, nomeadamente com a exploração do trabalho escravo das populações dos países ocupados. Estas empresas obviamente tinham donos e accionistas que obtiveram chorudos lucros com estes contratos.
Só na mais completa iliteracia (ou má fé) se pode partir daquele texto para esta conclusão. A não ser que se confunda a "burguesia alemã" com o "povo alemão".
Eu não confundo. Da mesma forma que não confundo os grandes heróis modernos da Alemanha como Rosa Luxemburgo, Karl Liebekenecht, Clara Zetkin ou Ernst THalmann, entre muitos outros com os herdeiros dos donos da IG Farben.
Este post só por iliteracia ou má fé.

Já li este anónimo cobardola da brigada brejnev a plantar comentários monotamentes sempre iguais em tudo que é blogue que ouse tocar-lhes nas feridas. Este lumpen intelectual pensa em copy-paste. E ainda lhes pagam ordenados de funcionários da JCP ou de empregos supérfluos em autarquias CDU. Ricas vidas. Mas a pachorra tem limites, é a última vez que vens aqui asilar, Zé Manel enquanto Zé Manel. A menos que dês a cara, sejas educado no trato e apresentes uma, chega uma, ideia própria.
De Miguel a 22 de Janeiro de 2010
Concordo com o Zé Manel no comentário acima.
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