
Nem o PS teve uma vitória “extraordinária” como disse Sócrates pois tem que lidar com a passagem de maioria absoluta para relativa nem este partido sofreu uma derrota “clamorosa” como proclamaram as oposições dado que venceu as eleições e com uma nítida vantagem sobre o segundo partido.
O que é razoável dizer-se é que o PS e a esquerda ganharam as eleições. O PS porque foi o partido mais votado (e, aqui, tem um mérito de assinalar dada a governação que praticou, as condições de conjuntura da segunda parte do mandato e o “desastre europeu” com que partiu para a campanha). A esquerda porque obriga o PS a guinar à esquerda; a governação vai politizar-se pois que, mais escrutinada e “negociada”, definha a tendência para o autismo e a tecnocracia gestionária dos actos de poder (favorável às receitas neo-liberais); defronta uma direita esfrangalhada e com o seu pólo dinâmico acantonado na extrema-direita de Portas; ganha mais e melhores condições para tirar a direita da Presidência da República.
De IsabelPS a 28 de Setembro de 2009
Já alguma vez lhe disse que aprecio imenso a sua honestidade intelectual?
De José de Sousa a 28 de Setembro de 2009
Caro João Tunes
Não tenho o seu optimismo. Se Sócrates pode dizer que teve uma vitória “extraordinária”, e dou-lhe o direito de qualquer qualificação exaltada, se considerar as expectativas que existiam há uns dois meses e a esforçada e inteligente campanha eleitoral que fez, não me parece que a esquerda (juntamente com o PS) tenha ganho as eleições. E isso porque obrigue o Governo do Engº Sócrates ao que quer que seja.
Eu por mim, sinto-me um tanto derrotado. Primeiro, porque é o CDS que faz aqui a diferença, proporcionando, com alguma facilidade, a maioria absoluta ao Governo. Tem o seu “caderno de encargos” e é só aparecer como se o estivesse cumprindo.
Depois, porque receio muito que o CDS, munido agora dum poder que pode utilizar de variadas formas, não reconverta a situação actual duma minoria da direita numa maioria dessa mesma direita. Como já existiu e de que maneira com a AD e o Cavaco. Da mesma maneira, dessa maneira “antiga”, talvez não; porque os sectores políticos que o CDS representa, poderão ganhar um peso e importância que nessas ocasiões “antigas” não tinham. Virá com isso, talvez, um elemento de clarificação, há muito necessário: o PPD (o PSP) que se defina, de vez, como liberal e deixe a social-democracia para o PS.
Com a tal alavanca do sim ou não parlamentar, não há uma simetria entre uma sua utilização pelo CDS ou pelo BE. Falo nas possibilidades que o BE teria. Eu contava com isso. Claro que seria minimizada essa questão da contagem de votos das maiorias a retalho. O BE, pela negação do que não aceitava e pela afirmação dessa mesma negação, a partir da tribuna e da visibilidade que o Parlamento dá, poderia tentar fazer a renovação da Esquerda também por dentro. E naturalmente com recurso a todos os outros meios possíveis. Uma Esquerda plural, não só nas suas diversas expressões, como nas suas diversas práticas e implantações. Em instituições mutáveis e não fossilizadas, como, por exemplo, os sindicatos. No exercício das liberdades e dos direitos sociais, etc. que existiria a cada momento. Pensar diferente, fazer diferente. Pensar, agir inovadoramente. Acompanhar e recriar as tentativas de novas esquerdas, de novos movimentos sociais, de novas atitudes. Uma nova maneira de nos achegarmos a um mundo em transformação.
Os tempos actuais seriam propícios. Parece-me que se chutou na “ocasião”. Desgostou-me o discurso final do Francisco Louçã. Também não apreciei particularmente a campanha eleitoral do BE. Inverdades, demagogia, flexões diversas conforme as circunstâncias e os objectivos. Ataque duro à política do governo de Sócrates. Nem faltou o pequeno oportunismo dos professores. Quase tudo para o passado, muito pouco que se parecesse com uma esquerda diferente. Com uma Esquerda diferente, a Desejada.
O que se segue é complicado. Com alguma sensatez, podemos dizer que tivemos agora umas eleições intercalares. Vamos esperar dois anos. Sabe-se lá se será assim. Como procederá um governo PS, se for empossado pelo Cavaco, de forma a alcançar futuramente uma maioria absoluta ou uma qualquer fórmula maioritária.
E, por fim, lá manifesto as minhas simpatias. Gostei de ver o BE duplicar os seus deputados, com alguns bastante bons. Foi, claro, o meu voto. Gostei de ver o estimável Cavaco tropeçar de forma tal que talvez nem volte a encontrar a porta do Palácio de Belém. É, claro, o meu desejo. Boa Sorte, Sr.Presidente.
Um abraço
P.S. Peço desculpa da minha linguagem que, às tantas, se torna um pouco lírica.
Caro José Sousa,
Partilhar optimismos e pessimismos é complicado. O não o estarmos a conseguir agora é regra e não excepção. Agradeço-lhe a partilha da sua análise.
O José de Sousa já disse uma parte, mas insisto: não estou mesmo nada certa de que o PS seja obrigado ou que vá agora guinar à esquerda – mas esperemos os episódios dos próximos capítulos.
Mais hipóteses de tirar a direita do Presidência da República? Não sei. Para além da tal teoria segundo a qual os portugueses não gostam de pôr todos os ovos no mesmo cesto (não sei se tem alguma consistência…), penso que, para a imagem de Cavaco, seria mais desgastante um governo minoritário do PSD do que a situação actual. Mas ainda vai acontecer muita coisa até lá…
Eu não estou certo de nada. O que não me inibe de dar palpites. E numa coisa estamos de acordo: "vai acontecer muita coisa".
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