Nestas coisas de política e lutas, há várias bússulas. Rui Bebiano, a propósito dos acontecimentos no Irão, escreveu: “Não ter posição neste confronto, fazer de conta que não é connosco, ou, pior, tomar partido por Ahmadinejad só porque este se arvora em paladino do anti-americanismo, apenas revela cegueira e menosprezo pelos princípios básicos de uma ética democrática.”
Concordei e concordo. E esperei por ver confirmada uma coerência de posição da parte da força partidária portuguesa (PCP/”Avante”) que tem sido o principal apoiante do Irão de Ahmadinejad, colocando o belicismo deste aventureiro na primeira linha da luta anti-imperialista (de que são exemplos inúmeros artigos do “Avante” acerca do programa de armamento nuclear no Irão). Nada disso. Antes pelo contrário,em artigo não assinado (o que pressupõe uma responsabilidade assumida da direcção do jornal), proclama-se: “Milhares de iranianos protestaram em Teerão contra o regime despótico, exigiram liberdade e democracia e contestaram a reeleição de Mahmud Amadinejad.”
Mas tamanha cambalhota na posição do PCP sobre Ahmadinejad só surpreenderia se não se lesse o parágrafo que se segue:
“O Partido Tudeh [Comunista] do Irão classifica o sufrágio de fraudulento e apela às forças reformistas, aos sectores progressistas e às massas populares para que contestem, por todos os meios, os resultados oficiais.”
Ou seja, funcionou o “internacionalismo proletário” entre “partidos irmãos”, bastando que o Partido Comunista Iraniano dissesse X para que os fiéis camaradas portugueses repetissem X, apesar de terem passado os anos do mando do “regime despótico” de Ahmadinejad a dele dizerem Y. Aliás, verdadeiramente cómica tem sido a sinusóide opinativa com que o PCP, através do “Avante”, vai apreciando Hugo Chavez e o seu socialismo bolivariano. Se o Partido Comunista da Venezuela diz sim a Chavez, o PCP enaltece-o e tece loas às realizações socialistas na Venezuela. Se o “partido irmão” se distancia ou se zanga com Chavez, o silêncio ou a crítica caem sobre a revolução chavista.
Da parte do PCP, estas posições só confirmam o profundo oportunismo irresponsável do seu posicionamento em política internacional. O que se percebe pela inércia da sua longa tradição de submissão e solidariedade mimética dentro do movimento comunista internacional e que é marca da casa há muitas décadas. Sem uma ideia política autónoma, um contributo particular, fora das leis da supremacia do rebanho internacionalista.
Afinal, o que surpreende, neste caso, é que o avisado Rui Bebiano não tenha contado com o efeito de bússula da solidariedade orgânica.