Terça-feira, 2 de Junho de 2009

O crime transformado em tabu

 

Vinte anos depois, o crime do comunismo em Tiananmen continua sem direito a lápide na memória dos chineses e do mundo. Com a Praça limpa, o sangue das vítimas diluído e escorrido a jacto para valetas antes que secasse e se agarrasse ao chão e incomodasse os turistas, os ossos dos trucidados varridos para um aterro sanitário conforme o Plano para os resíduos sólidos urbanos de Pequim, a ordem comunista restabelecida para prosperidade do capitalismo mais selvagem que só a perversão marxista-leninista consegue, a cúpula do comunismo chinês ordenou e fez cumprir a ordem do silêncio sobre as vítimas de Tiananmen. Depois do massacre, instalou-se o tabu.
 
Para os mandarins engalanados com dourados de estrelas e foices e martelos, foram apenas 241 os contra-revolucionários que tombaram por resistirem à eternidade da felicidade comunista. Pese embora a Amnistia Internacional falar em 1.300 manifestantes assassinados e outras organizações multiplicarem este número. E menos se sabe ainda sobre o número de detidos e quantos destes provaram depois, nas entranhas, o sabor do chumbo das balas dos fuzilamentos.
 

Entre mortos, feridos e aprisionados, o que mais interessa hoje decifrar é quantos combatentes da liberdade de Tiananmen, nossos irmãos na causa universal da democracia - causa sem pátria, sem cor e acima dos partidos -, continuam nas prisões do comunismo chinês por gritarem Liberdade! naquele dia de 1989 e naquela Praça. E, com a nossa indignação, arrancá-los de lá. O Human Rights Watch calcula que sejam 100 os que penam na prisão há vinte anos de entre os que escaparam à trituração das lagartas em aço dos tanques pintados com as cores da fraternidade comunista. Seja esse o número, menos uns tantos ou um bocado mais, é preciso saber deles, quem são, devolver-lhes os rostos e os nomes, permitir-lhes que voltem a pisar o chão de Tiananmen, mesmo que a Praça continue a ter a liberdade adiada. Porque essa, a liberdade, acabará por ali, como a todos os lugares, chegar.

 

Publicado por João Tunes às 14:26
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