No antigo regime, os estudantes universitários eram pomposamente designados de "futuros dirigentes da Nação". Hoje, os futuros dirigentes da Nação formam-se nas "jotas" a colar cartazes e a aprender as artes florentinas da intriga e da bajulice aos poderes partidários, enquanto à Universidade cabe formar desempregados ou caixas de supermercado. A situação não é, pois, especialmente grave. Um engenheiro ou um doutor bêbedo a guiar uma carrinha de entregas com música pimba aos berros não causará decerto tantos prejuízos como se lhe calhasse conduzir o país. Acontece é que muitos dos que por aí hoje gozam como cafres besuntando os colegas com fezes, emborcando cerveja até cair para o lado, perseguindo bezerros e repetindo entusiasticamente "Quero cheirar teu bacalhau" andam na Universidade e são "jotas". E a esses, vê-los-emos em breve, engravatados, no Parlamento ou numa secretaria de Estado (Deus nos valha, se calhar até já lá estão!).
Concordando com o Manuel António Pina, apenas ressalvo a (pequena, na verdade) contraposição do "dantes" e do "hoje". Fiz um comentário sobre isso, no Porto, no "post" de Joana Lopes no "Entre as Brumas da Memória", que não me apetece repetir. Em síntese: as "jotas" (e a sua função) só diferem do passado por serem plural.
"Sendo assim?..." Por causa do "não me apetece"? Na verdade tenho grande dificuldade em repetir-me... Mas, enfim, no Porto havia o Centro Universitário (orgão da MP) que diferia do CDUL por ter intenções e actividades para além das desportivas. Uma delas era uma pretensa substituição dos objectivos das associações de estudantes que, à excepção da Associação de Farmácia, eram inexistentes no Porto. Não conseguimos mais que as pró-associações, por acção governamental. O Centro Universitário, dirigido entre outros pelos professores fascistófilos Jayme Ryos de Souza e Serrão, da Faculdade de Ciências, foi um orgão de segura colocação profissional de vários dos seus dirigentes e outros associados, sobretudo em estruturas governamentais e concelhias, de estudantes de fraquíssima qualidade académica (exceptuando-se, talvez, o Beirão Reis), alguns dos quais viram também os seus futuros militares abolidos ou amenizados. Era a "jota" de então. Funcionava, na prática, como as actuais. Era esta a ressalva que eu pretendia fazer ao texto do MAP.