Domingo, 26 de Abril de 2009

Desafiado a contar o meu “24 de Abril” pela Sofia Loureiro dos Santos, satisfazendo também a curiosidade da Cristina Vieira, esse dueto de simpatias, aqui fica a síntese de memória que a distância ainda me permite ser capaz de fazer:
Em 24 de Abril de 1974, a ditadura preparava-se para estrangular o cineclubismo, movimento em que participava como dirigente do ABC. Na noite de 24 para 25 de Abril, quase não preguei olho. Não por causa da PIDE a apertar o cerco sufocante aos cine-clubes. E nada sabia das movimentações dos militares. A vigília tinha outro motivo - a minha filha Catarina, então com três anos, com uma amigladite, desafiava a escala do termómetro com um febrão consistente. Quando um amigo e meu vizinho me tocou à porta a dar-me a novidade e dizendo-me para ligar o rádio, seriam umas cinco da madrugada, estava acordado embora zonzo de uma noite quase não dormida. Depois, foi a escuta, partilhada de sobrolho carregado, do que a telefonia dizia e cantava, intercalada com os banhos de água tépida para refrescar a Catarina. O meu amigo e vizinho palpitava que era o Kaulza que tinha metido a tropa na rua. Eu inclinava-me por Spínola. Em sintonia, achávamos que estávamos tramados. Quando a manhã rompeu, a Catarina melhorou repentinamente pois o antibiótico começava a evidenciar o seu efeito. Podia, então, tirar as dúvidas, saber. E havia ruas para encher. Enquanto os cine-clubes iniciavam a marcha da ausência de utilidade rumo à inacção que a PIDE tentara e não tivera tempo para conseguir.
o raio do kaulza lixou o 25 de abril a muita gente
Obrigada, João Tunes. Esquecemo-nos que a vida é a de todos os dias, mesmo que alguns segundos de decisões façam mudar a História.
Foi um susto de minutos, ACL...
De Rui Carlos a 26 de Abril de 2009
Hoje já é o dia 256 de Abril mas, como só hoje tive conhecimento da curiosa iniciativa, não resisto a compartilhar as vivências desse tempo.
O dia 24 de Abril de 1974, realmente, foi um dia rotineiro, igual a tantos outros que a vida do serviço militar obrigatório me tinha já proporcionado. Estive no "meu" quartel, saltitando entre a secretaria da Bataria de Instrução e a área de instrução, a sala dos oficiais onde se conversava muito, a "messe" e as aulas. Sonhava-se nos intervalos, com outros milicianos de igual sorte e homens do QP, com o dia de amanhã que havia de se seguir ao 16 de Março (ainda tão perto no calendário).
Depois, no dia 24 de Abril, como não estava de serviço, seguiria para casa, para os outros meus, para a "verdadeira" e única sociedade civil, após a conclusão do dia na militar.
Este foi o meu 24 de Abril.
Simples, verdade?
De resto igual, seguramente, ao de tantos outros soldados, cabos, furriéis, aspirantes e alferes milicianos de quem mais não se ouviu falar, tivessem ou não feito algo no dia seguinte.
Certo?
Rui Carlos
Obrigado pelo seu testemunho.
Obrigada João. Tinha que ser diferente !! a febre estava na rua mas o termómetro subiu foi lá em casa :)
um beijinho
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