Se há a questão da memória, há sempre o problema das palavras. A Ana Paula Fitas explicou-se agora, tomando este post como motivo de conversa, melhor e muito bem. Calha até que temos as mesmíssimas posições sobre o direito à memória e à sua importância como pilar cívico dos povos. Podia não ser assim e não ser por isso que o gato ia comer as filhós. Mas é, desfeitos que foram os equívocos na interpretação das palavras. Como serviu para clarificar as nossas posições comuns numa causa comum, acho que esta conversa valeu realmente a pena.
Entretanto, não deixa de ser curiosa a escolha feita pela Ana Paula, se houve a intencionalidade que suponho, da foto com que ilustrou este seu post de esclarecimento. Se o critério da escolha teve a ver com a necessidade de a memória ter de cohabitar com a verdade histórica e não dever ser manipulada, não servindo maniqueísmos de destapar um lado e tapar o outro, então a escolha foi clarividente como exercício da lide certa com a memória. É que ambos falámos (só) dos crimes do franquismo quando sabemos que crimes e abusos também aconteceram no outro lado (embora numa escala infinitamente inferior e mais localizados no tempo). A Ana Paula, ao ter escolhido exactamente aquela foto, não uma que sugerisse repulsa pelos crimes de Franco mas um documento ilustrativo de exaltação macabra feita por um grupo de combatentes fanáticos, estúpidos como todos os fanáticos, do lado republicano, fez um bom exercício de apologia de que uma memória que se quer limpa implica lembrar a verdade e toda a verdade. Gostei.
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