Quarta-feira, 22 de Novembro de 2006

A BANCA QUE PAGUE A CRISE

000phrdr

Algumas observações de raspão a propósito do último “Prós e Contras” sobre a Banca e os Bancos:

 

I - É indubitável a aversão generalizada à banca e aos banqueiros (por vezes, aos bancários) manifestada no limite comicieiro por Garcia Pereira e com o devido pontuar de entusiasmo popular manifestado pelo público assistente. Tal tem raízes culturalmente religioso-católicas – a aversão simbólica ao dinheiro, em paralelo com uma tentação gulosa por o ter quentinho nos bolsos. Tivesse Portugal sido contaminado pela infecção calvinista e outro galo cantaria. Ou seja, desfazia-se uma dualidade hipócrita dos nossos nojos correntes só descascada nas filas às tabacarias quando o Euromilhões anuncia jackpot.

 

II – Malhar na Banca é um expediente populista que é fácil, barato e com sucesso garantido. Como haver quem lhe resista?

 

III -  A Banca, pelos seus resultados e modernização, suscita ainda a inveja corrente para com o sucesso. É trivial. Como é trivial que o sucesso bancário tenha um pico alto devido à catástrofe da deslocação louca e descontrolada do económico para o financeiro. Como era inevitável que uma área de sucesso e muito lucro tenda a abusar da sua posição relevante cada vez mais assente no domínio leonino sobre mecanismos empresariais e pessoais de dependência a dinheiro emprestado. E, assim, resvale facilmente para a fraude (mal) disfarçada (de que são exemplos: os contratos pouco clarificados, as rapinas pelos arredondamentos, a diferente contabilidade de calendário entre débito e crédito). Tivesse Garcia Pereira esquecido, durante o programa, que estava a representar o MRPP (que julgo ser uma organização de que será membro único) e as suas denúncias e apertos teriam sido certeiras e eficazes.

 

IV – Como “grande potência”, a viver em pico de sucesso próspero, a Banca comporta-se com arrogância insuportável e inadmissível. Como o demonstraram os dois banqueiros presentes no programa. Nomeadamente, quando ameaçaram com os efeitos “catastróficos” se a Banca for obrigada a corrigir retroactivamente as contabilidades mal paridas por assentes em esbulhos indevidos. Sobretudo na forma descarada de encarar o respeito pela ética nos seus estreitos figurinos legislativos em que só a fraude explicitamente proibida é ilegítima e corrigível. Ao ouvir João Salgueiro debitar provocatoriamente e em desafio “nós cumprimos a lei, mudem então a lei”, com um sibilino subentendido não oralizado de “se forem capazes…”, não deixei de me lembrar que, no currículo deste “Banqueiro dos Banqueiros”, consta uma passagem por um governo de Marcello Caetano. Pois é, como a democracia então ainda não tinha sido decretada, era normal e legal, democrático até, governar-se em ditadura. Coerente o cavalheiro, pois então.

 

V – Como comum português, respeitador da tradição católica, termino o post com o grito “A Banca que pague a crise!”. E, já de seguida, vou registar o boletim do Euromilhões. Porque estou em semana de fé. E preciso, muito, de dinheiro. Para pôr no banco.

Publicado por João Tunes às 12:33
Link do post
Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

j.tunes@sapo.pt


. 4 seguidores

Pesquisar neste blog

Maio 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

Nas cavernas da arqueolog...

O eterno Rossellini.

Um esforço desamparado

Pelas entranhas pútridas ...

O hino

Sartre & Beauvoir, Beauvo...

Os últimos anos de Sartre...

Muito talento em obra pós...

Feminismo e livros

Viajando pela agonia do c...

Arquivos

Maio 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Junho 2013

Março 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Junho 2012

Maio 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

Fevereiro 2004

Links:

blogs SAPO