Algumas observações de raspão a propósito do último “Prós e Contras” sobre a Banca e os Bancos:
I - É indubitável a aversão generalizada à banca e aos banqueiros (por vezes, aos bancários) manifestada no limite comicieiro por Garcia Pereira e com o devido pontuar de entusiasmo popular manifestado pelo público assistente. Tal tem raízes culturalmente religioso-católicas – a aversão simbólica ao dinheiro, em paralelo com uma tentação gulosa por o ter quentinho nos bolsos. Tivesse Portugal sido contaminado pela infecção calvinista e outro galo cantaria. Ou seja, desfazia-se uma dualidade hipócrita dos nossos nojos correntes só descascada nas filas às tabacarias quando o Euromilhões anuncia jackpot.
II – Malhar na Banca é um expediente populista que é fácil, barato e com sucesso garantido. Como haver quem lhe resista?
III - A Banca, pelos seus resultados e modernização, suscita ainda a inveja corrente para com o sucesso. É trivial. Como é trivial que o sucesso bancário tenha um pico alto devido à catástrofe da deslocação louca e descontrolada do económico para o financeiro. Como era inevitável que uma área de sucesso e muito lucro tenda a abusar da sua posição relevante cada vez mais assente no domínio leonino sobre mecanismos empresariais e pessoais de dependência a dinheiro emprestado. E, assim, resvale facilmente para a fraude (mal) disfarçada (de que são exemplos: os contratos pouco clarificados, as rapinas pelos arredondamentos, a diferente contabilidade de calendário entre débito e crédito). Tivesse Garcia Pereira esquecido, durante o programa, que estava a representar o MRPP (que julgo ser uma organização de que será membro único) e as suas denúncias e apertos teriam sido certeiras e eficazes.
IV – Como “grande potência”, a viver em pico de sucesso próspero, a Banca comporta-se com arrogância insuportável e inadmissível. Como o demonstraram os dois banqueiros presentes no programa. Nomeadamente, quando ameaçaram com os efeitos “catastróficos” se a Banca for obrigada a corrigir retroactivamente as contabilidades mal paridas por assentes em esbulhos indevidos. Sobretudo na forma descarada de encarar o respeito pela ética nos seus estreitos figurinos legislativos em que só a fraude explicitamente proibida é ilegítima e corrigível. Ao ouvir João Salgueiro debitar provocatoriamente e em desafio “nós cumprimos a lei, mudem então a lei”, com um sibilino subentendido não oralizado de “se forem capazes…”, não deixei de me lembrar que, no currículo deste “Banqueiro dos Banqueiros”, consta uma passagem por um governo de Marcello Caetano. Pois é, como a democracia então ainda não tinha sido decretada, era normal e legal, democrático até, governar-se
V – Como comum português, respeitador da tradição católica, termino o post com o grito “A Banca que pague a crise!”. E, já de seguida, vou registar o boletim do Euromilhões. Porque estou em semana de fé. E preciso, muito, de dinheiro. Para pôr no banco.
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