“O Cardia tinha um ar frágil e desprotegido mas era um tipo rijo, corajoso e excelente conversador. Varámos algumas noites, no “Mandarim”, ali à Praça da República em conversas de bica aberta, sobre tudo e sobre nada. Depois ele formou-se e só dava notícias via “Seara Nova”. De vez em quando sabíamos que tinha sido preso pela PIDE. E sabíamos igualmente que ele fazia parte dos “que não falavam”. Só quem viveu esses tempos de susto e resistência é que sabe o que isso significava, a segurança que o Mário transmitia e o respeito que os outros lhe tinham. Era também um stalinista ao que se dizia. E um guardião da fé contra ventos e marés. Mais tarde, já nos anos setenta aparece subitamente no PS. E depois do 25 de Abril terá com António Barreto a honra de ver o nome pintado por toda a parte com pedidos de demissão e ataques ferozes. O que não quer dizer que ambos não tivessem razão, mas isso agora será chover no molhado. Depois, desapareceu de cena. Foi vagamente candidato a candidato à presidência da república e a partir daí foi o black-out total. Os jornais e a televisão anunciam-lhe a morte. Aos 65 anos! Com ele, e ao mesmo tempo, desaparece toda uma geração de dirigentes políticos do PS. Varridos pela história e pelos congressos unanimistas do partido socialista. Como se a morte de Cardia fosse a metáfora da morte de uma certa ideia de socialismo português.” (aqui)
Na foto: Lopes Cardoso, Mário Soares, Salgado Zenha e Sottomayor Cardia na “primeira linha”, quando o socialismo tinha ideias e muito antes que o ideólogo do PS fosse Cavaco Silva.
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