Imediatamente após o discurso de encerramento do congresso do PS por José Sócrates, com o anúncio bombástico do prometido aumento do salário mínimo, a repórter da TSF quis ouvir, em primeiríssima mão e explorando o efeito surpresa, o Secretário Geral da CGTP, convidado do congresso, para o questionar o que achava daquela medida-bomba de esquerda. É daquelas situações profissionais que se entendem bem no quadro das grandes oportunidades. Sócrates a surpreender o mundo laborar a partir de Santarém, desarmadilhando a contestação sindical, e ali à mão de microfone Carvalho da Silva em pessoa e em directo, ainda não refeito do choque da revelação. A pergunta é disparada com solenidade radiofónica: “Carvalho da Silva, o que tem a dizer deste anúncio de José Sócrates de que vai ser aumentado o salário mínimo?”. Repentinamente, toca o hino nacional, retumbante e solene. Tudo estragado. Ainda se ouve o lamento da repórter a ciciar “bem, agora com o hino a tocar, não dá para ouvirmos Carvalho da Silva”. Claro que não dava. E ouviu-se o hino, cantado desafinadamente (como é costume) pelos congressistas socialistas. Depois, como se previa, Carvalho da Silva, devendo ter aproveitado a pausa patriótica para preparar a resposta e refazer-se do choque da surpresa, já mostrava a serenidade suficiente para responder calma e burocraticamente (como também é costume): “vamos ver, por enquanto é só uma promessa”. E assim, um hino, o hino nacional, não só estragou o trabalho de uma repórter com o sentido da oportunidade, que é o que distingue o bom do mau repórter, como inviabilizou o efeito, em directo, da ultrapassagem por Sócrates, e pela esquerda, do sindicalismo militante. Um hino também tem malefícios? Tem.