Sabe-se da deficiente sinalética que orienta a circulação rodoviária. É pecha antiga e julgo que todos e cada um já passaram por esse martírio. No fundo, trata-se de uma herança do velho desprezo pelos utentes dos serviços públicos, quando vistos como “beneficiários” dos bens e serviços que pagam através dos impostos. Somos sempre um estorvo ou um incómodo quer quando entramos numa repartição pública ou quando circulamos numa estrada.
A desorientação com a sinalética rodoviária pode ser mais ou menos grave, fazer perder mais ou menos tempo, gerar mais ou menos incómodo. Por causa da má sinalética pode perder-se um negócio, faltar-se a um encontro amoroso, andar-se às voltas a consumir combustível que custa um dinheirão. Pode, no limite, levar-nos a praguejar, pecando, ou até falharem-se os alvos religiosos. Como se demonstra com a senhora que, rumando “à procura de Deus”, se meteu no automóvel e, decerto por má sinalização, em vez de ir parar ao Santuário de Fátima se enfiou dentro da vizinha Base Aérea de Monte Real, como relata o DN de hoje.
As autoridades andam a averiguar a quebra de segurança que permitiu que a senhora “à procura de Deus” se tenha aproximado dos temíveis caças F-16 aquartelados na Base de Monte Real. Inútil, julgo. Pelo absurdo de se pensar que a crente queria ir de caça pelos céus dentro à procura do destino pretendido. Tratem mas é da sinalética, em vez de juízos preconceituosos sobre peregrinos confundidos com a (má) sinalização. No fundo, um espelho da velha ideia que a culpa é sempre do utente, mesmo quando este mergulha em transe místico.
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