Leio com a tristeza de uma perda de companhia, daquelas que habitámos e nos habitou:
AFRICANIDADES foi o que foi, uma estrada de pensamentos que saltavam dos dedos directamente para a rede - sem censura - muitas vezes enlameados devido à chuva, outras empoeirados por causa do sol, tal como a meteorologia que nos aquece e alegra os dias. Vamos embora no melhor da festa, mas a vida é assim mesmo, nem sempre se pode ficar até ao fim.
O Jorge Rosmaninho, um jornalista jovem, alentejano, autónomo e independente, captador de imagens únicas, tão africano quanto África permite a um europeu que o seja, com os valores humanos e solidários sempre estendidos ao sol, muitas vezes picados por mosquitos, daqueles que há por toda a parte, durante anos a fio trouxe-nos o quotidiano guineense e o de outras paisagens humanas africanas por onde deambulou, aqueles onde o cliché não polui.
Num certo sentido, e essa minha dívida para com ele é impagável, os escritos de Jorge Rosmaninho funcionaram como um espécie de alter ego da minha ligação e negação relativamente a África, mais concretamente com a Guiné-Bissau. Pelos caminhos, longos caminhos, do Jorge, que ele colocava na net como vida a cheirar a fresco, eu revisitei uma realidade que atravessei em guerra e a fazer a guerra, obrigado pela época em que a minha juventude teve o azar de encalhar. Ali gastei ingloriamente, contrariando a história, dois daqueles que deviam ser os meus melhores anos. Essa marca de revolta, pessoal e política, mais a desilusão dos descaminhos na concretização do sonho de Amílcar Cabral, descapacitaram-me de voltar a pisar o chão guineense. Lendo o Jorge Rosmaninho, eu fui conseguindo equilibrar este não estar e lá estar, olhando gentes e bolanhas que me ficaram agarradas aos olhos, à pele e ao sentimento. E agora?
Boa sorte, Jorge. E não te esqueças de recomeçar, emitindo a partir dos teus novos acampamentos.
Um abraço na companhia de um obrigado.