
Diga o que disser, faça o que fizer, defenda o que defender, goste do que gostar, reze o que rezar, Ingrid Betancourt liberta é assunto completamente distinto do da Ingrid Betancourt prisioneira. Agora livre, todas as suas opiniões estão sujeitas ao contraditório, inclusive no limite de parecerem pueris ou ridículas, mas antes, em que o seu e nosso sonho maior era ela sair da garra dos carcereiros fascistas marxistas-leninistas, os homens e as mulheres livres só podiam estar integralmente com toda ela. Nisto, não há contradição, apenas o efeito da liberdade.
Como muito bem escreveu o Luís Januário:
Alguns dos que não mexeram uma palha a exigir a libertação de Ingrid e outros que tacitamente aceitavam que ela era uma “prisioneira de guerra” (escrevendo assim com todas as letras) com mero valor de troca, mais aqueles cínicos que acharam que ela “até vinha em bom estado” e longe da prostração comatosa que lhe competiria como sequestrada, tentam hoje, com base nas suas actuais posições públicas após a libertação - as políticas, as religiosas e as emocionais -, encontrar em Ingrid, na Ingrid - mulher livre de que livremente podemos gostar ou não do que pensa e diz, uma desqualificação, ou várias, que atenue o factor objectivo constituído pela derrota das FARC na operação de resgate dos sequestrados. No fundo, tudo gente que não consegue amar a liberdade além das cumplicidades ideológicas ou partidárias. Porque não é, nunca foi, a Ingrid encarcerada mais de seis anos, nem os restantes sequestrados, por um narco-gang, que lhes tirou ou tira o sono, são as FARC metidas no coração, as colombianas ou as de um imaginário redentor que meta tiros sonâmbulos na burguesia, que lhes dão sobressaltos de arritmia política, doença vulgar no marxismo-leninismo apodrecido.