
II – O NÚCLEO DURO CERRA FILEIRAS
Na Conferência de 1969, pontificavam naturalmente os chefes máximos das ditaduras comunistas que constituíam a “comunidade dos países socialistas”, com o anfitrião Leonid Brezhnev (URSS) à cabeça e no comando dos trabalhos. Entre as ausências das chefias comunistas no poder, além de Mao (China), Enver Hoxa (Albânia) e Tito (Jugoslávia), registou-se a falta de comparência de Castro (Cuba) que delegou em Carlos Rafael Rodriguez a presença mas como delegado observador, Kim Il Sung (Coreia do Norte) e da chefia do Vietname (justificada pela guerra vieto-americana). Algumas das chefias que foram delegados à Conferência, manter-se-iam à frente dos poderes nacionais por mais vinte anos, ou seja, até à implosão do sistema comunista e às quedas das suas ditaduras locais (Nicolae Ceauscescu, na Roménia; Todor Zhivkov, na Bulgária; Janos Kadar, na Hungria; Gustav Husak, na Checoslováquia e Yumzhaguiin Tsedenbal, na Mongólia). Dois outros iriam morrer com o poder nas mãos (Leonid Brezhnev, na URSS; Walter Ulbritcht, na RDA). Finalmente, um deles, apenas um, viria a ser depois apeado do poder por incapacidade de responder aos problemas internos (Wladyslaw Gomulka, na Polónia). Resumindo, praticamente todas as lideranças comunistas no poder e que assim se mantiveram até ao fim do sistema, estiveram presentes na Conferência, redesenhando o movimento comunista internacional pela exclusão da heresia cismática chinesa. Ao lado dos “poderosos”, tivemos uma numerosa plêiade de dirigentes lutando em oposições ou sob ditaduras e igualmente apostados na recomposição da hegemonia soviética, como Rodney Arismendi (Uruguai), Aarne Saarinen (Finlândia), Luís Corvalan (Chile), John Marks (África do Sul), Luís Carlos Prestes (Brasil), Waldeck Rochet (França), Gus Hall (EUA), Kostas Kolliannis (Grécia) e Álvaro Cunhal (Portugal). Os papéis de delegados “desmancha-prazeres” foram representados, além do “desalinhamento” de Ceauscescu (Roménia), por Laurie Aarons (Austrália), Santiago Carrillo (Espanha), Enrico Berlinguer (Itália) e John Gollan (Grã-Bretanha). O resto da assembleia “reconstituinte” do movimento comunista internacional foi preenchida, na sua maioria, por delegações de pequenos partidos e com fraquíssimas influências nacional e internacional.
Na preparação da Conferência, tinha havido um acordo tácito em dar o enfoque maior no “combate ao imperialismo” (com a solidariedade para com os vietnamitas no centro) e na “defesa da paz”, ladeando as questões que iriam provocar choques de opinião e posição entre os delegados presentes, nomeadamente quanto ao diferendo sino-soviético. Quanto à invasão da Chescoslováquia em 68 e à recente substituição da direcção do PC da Checoslováquia (em que Dubcheck fora substituído por Husak), havia um acordo prévio, na base cínica da “não ingerência em assuntos internos de outros partidos”, de que o “caso checoslovaco” não fosse sequer abordado. Mas não só estes acordos prévios não foram respeitados como constituíram as bases de polémicas apaixonadas ocorridas durante os trabalhos da Conferência. Como se verá em posts de continuação.
De Aqueduto Livre a 29 de Junho de 2008
Vou acompanhar... com máximo interesse.
Interessante, cuidadoso, rigoroso e duma actualidade desconcertante.
Só, aparentemente, para os mais distraidos ou não conhecedores, estes teus postes podem parecer fora de moda e ucrónicos. Erro.
O que somos, hoje, e para onde vamos, hoje, como Europa e, ouso dizê-lo, como Humanidade - reportam-se, em muito, a esses acontecimentos que tu referes, interpelas e, de modo seguro, interpretas.
Abraço,
Zé Albergaria
NB - Pode vir a propósito, nesta tua demanda historiográfica, desejar-te: "continuação de bom trabalho"!
Comentar post