Há precisamente 60 anos, Estaline fez o primeiro grande teste à capacidade de resposta ocidental ao seu poder de iniciativa no quadro da Guerra Fria, recolocando o espectro da guerra (agora com novo alinhamento das partes, dividindo os vencedores que três anos antes haviam vergado a Alemanha nazi). Com ambos os lados a possuírem armamento nuclear. E outra vez tudo parecia querer recomeçar na Alemanha. Mais concretamente, em Berlim.
Numa decisão temerária, contando com o efeito do medo e do pânico, em Junho de 1948, Estaline decidiu encerrar todos os acessos terrestres a Berlim Ocidental, transformando em reféns 2,2 milhões de berlinenses, privando-os de tudo, incluindo comida e combustível. Ocupada toda Berlim, desbaratada toda a Alemanha, o Exército Vermelho chegaria até à fronteira com a França, depois o PCF e o PCI fariam o resto que havia a fazer e a Europa seria vermelha.
Mas os ocidentais responderam. Uma gigantesca ponte aérea, que durou 320 dias ininterruptos, totalizando 280.000 voos, numa média de 900 voos diários, com aterragens de três em três minutos, foi montada para auxiliar Berlim e para onde foram transportadas 2,3 milhões de toneladas de mercadorias.
Berlim resistiu. E a 12 de Maio de 1949, foi Estaline que recuou, engolindo a provocação. A força bruta soviética não resultara face à determinação, meios e tecnologia do inimigo capitalista. O mundo respirou de alívio. Sobretudo os berlinenses. Com o preço de terem de esperar mais quarenta anos, por 1989, para terem a cidade reunificada e sem muro a dividi-la. Mas o pior, uma hipótese bem real de se reacenderem as labaredas da guerra, tinha passado.
No meio da miríade de pequenas e grandes discórdias dos nossos dias, e porque a memória é sempre curta, quantas vezes os europeus se lembram que não foi há muito que estiveram à beira de tudo perderem, pulverizando-se o continente nas poeiras de cogumelos atómicos?