
Se um conceituado académico e comentador mediático demonstra um súbito gosto por chafurdar num detrito que lhe calhou no menú, como levar a mal que um qualquer ansioso de esporádicos espiches blogosféricos, se deleite em epilepsia prosélita? Esta a questão, não o livro (*) (**).
António Barreto não tem, decerto, a inocência estúpida que seria necessária para se aceitar que degluta e espalhe notícia, numa escala de decência mínima, o fac-simile da falsificação grosseira de uma “carta oficial” de Rosa Coutinho para Fidel Castro, instruindo-o no mata-esfola angolano. Mas António Barreto prestou-se a essa miséria, usando o “Público” de ontem (em crónica que pode ser lida aqui). Aliás, a falsificação é tão grosseira (como entender tal tipo de instruções em papel oficial e timbrado e com evidência de linguagem fabricada com artificialismos canhestros, clarificando as cumplicidades, através de “carta”, se calhar “metida com selo numa estação de correios”) que o autor tanto se desacredita ao tê-la enfiado no acervo documental que me esfumou, na altura da leitura (li-o logo que foi publicado uns meses atrás), eventual vontade de ao livro então me referir.
António Barreto ficará para sempre com esta nódoa, por muito brilhantismo com que venha a polir a solidez do seu passado académico, em que rigor é condição. Porque, desta forma, como académico, António Barreto comunicou-nos que faleceu por vontade sua. E, neste enterro, merece bem a companhia de um apaniguado que se lhe pendura na carreta funerária, agradecendo-lhe o “dever cívico” da difusão da mentira primária, prometendo, por homenagem ao livro e ao académico defunto, que cultivará o livro em altar, “comprando-o e devorando-o mal se cruze com ele”.
(*) – “Holocausto em Angola”, Américo Cardoso Botelho, Editora Vega
(**) – Tirando os aspectos mal encadeados e a sua péssima organização, além de falsificações primárias que alberga, ainda nunca explicando bem o que é que o autor de facto andou a fazer em Angola em companhia com os diamantes, o livro tem um inegável valor testemunhal.
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Nota: ler também este post
De
pepe a 15 de Abril de 2008
É, de facto, espantoso como A.B. reproduz acríticamente um documento tão improvável.
De Augusto a 15 de Abril de 2008
Tenho A. Barreto por um homem inteligente e surpreendeu-me ter embarcado em tamanha falsificação. Uma verdadeira casca de banana.
Mas não é a primeira vez que A. Barreto tem destes
desvarios. Todos nos lembramos do que disse sobre o Centro Cultural de Belém há alguns anos.
A referida "carta" parece mais, no estilo e no conteúdo, um daqueles documentos que a PIDE forjava para acusar os anti-fascistas.
Não se deve beber o primeiro copo de água que nos
impingem. Convém saber a sua origem.
Para bem da nossa saúde.
E isto não significa que se esteja a negar que em Angola, antes e depois de 1975 não se tenham cometido as maiores arbitrariedades e violências.
Mas esta forma tão tosca de denúncia só pode beneficiar aqueles que as negam.
É absolutamente repugnante que se queira reescrever a História. Repugnante mas afinal tão compreensível. De facto, terminada a descolonização e acertadas as contas com o passado fascista, vêm à tona os revanchistas e os que não a querem aceitar. Tarde demais, digo eu.
É preciso não ter vergonha ou ser mesmo cego para não saber o que se passou em Angola desde 1960. Aconselho a ver os programas do J. Furtado na 2 onde se pode avaliar claramente os responsáveis de tudo. E a quem beneficiou tanto crime. Quem armou e financiou a UPA e a mandou matar todos os não pretos, todos os não protestantes. E isso foram os americanos e a CIA. São eles próprios que o dizem.
Mas , claro, convém explicar tudo através das malfeitorias de uma tal esquerda e de um tal comunismo que o que fez foi tentar apanhar as canas dos foguetes...ou o comboio da descolonização. À qual, aliás chegaram muito tarde, diga-se em abono da verdade. Ainda hoje o PCP acha que o golpe do 25 de Abril foi causado pela luta de classes em Portugal e que o exército colonial tinha legitimidade para dizer como se deviam organizar as sociedades em Portugal e nas colónias...
O MPLA, de esquerda ? Só dá para rir !
O Rosa Coutinho a dar indicações ao Fidel Castro ? Nem dá para comentar !
Mas esta gente sabe lá o que se passou em Angola!?
Sabe que o exército sul-africano só não entrou vitorioso em Luanda a 11 de Novembro porque foram parados pelas forças cubanas a 30 km de Luanda ?
Que esse exército tinha cometido as maiores chacinas desde o Cunene e saqueado todos os bens dos colonos portugueses incluindo o gado de topo de gama da Estação Veterinária de Nova Lisboa ?
Que em conjunto com a Unita procederam a várias limpezas étnicas por toda a Angola ?
As falsificações vão continuar enquanto houver quem tenha saudades do outro tempo.
O papel dificílimo de Rosa Coutinho em Luanda apenas com 150 soldados fieis - todos os outros foram devidamente enquadrados pelos oficiais para não combaterem - mesmo quando estavam em perigo populações civis, de qq cor, diga-se, foi uma obra de arte político-militar: Digo-o porque sei.
Quando, para evitar a tomada de Luanda pelos hordas da UPA e do Mobutu , o RC enviou 100 homens fieis ao encontro de mais de 5.000 soldados e com isso os fez parar, tendo prendido muitas centenas deles, à mão, apanhados a dormir dentro das matas do Norte de Angola, isso foi um dos mais extraordinários feitos e grande contribuição para evitar mais um banho de sangue.
António Barreto está em roda livre há muito tempo e desesperado por não ser ministro de qq coisa. Dispara a torto e a direito. é ver o que tem vindo a dizer sobre a Ministra da Educação e sobre os professores, coitadinhos. [
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É absolutamente repugnante que se queira reescrever a História. Repugnante mas afinal tão compreensível. De facto, terminada a descolonização e acertadas as contas com o passado fascista, vêm à tona os revanchistas e os que não a querem aceitar. Tarde demais, digo eu. <BR>É preciso não ter vergonha ou ser mesmo cego para não saber o que se passou em Angola desde 1960. Aconselho a ver os programas do J. Furtado na 2 onde se pode avaliar claramente os responsáveis de tudo. E a quem beneficiou tanto crime. Quem armou e financiou a UPA e a mandou matar todos os não pretos, todos os não protestantes. E isso foram os americanos e a CIA. São eles próprios que o dizem. <BR>Mas , claro, convém explicar tudo através das malfeitorias de uma tal esquerda e de um tal comunismo que o que fez foi tentar apanhar as canas dos foguetes...ou o comboio da descolonização. À qual, aliás chegaram muito tarde, diga-se em abono da verdade. Ainda hoje o PCP acha que o golpe do 25 de Abril foi causado pela luta de classes em Portugal e que o exército colonial tinha legitimidade para dizer como se deviam organizar as sociedades em Portugal e nas colónias... <BR>O MPLA, de esquerda ? Só dá para rir ! <BR>O Rosa Coutinho a dar indicações ao Fidel Castro ? Nem dá para comentar ! <BR>Mas esta gente sabe lá o que se passou em Angola!? <BR>Sabe que o exército sul-africano só não entrou vitorioso em Luanda a 11 de Novembro porque foram parados pelas forças cubanas a 30 km de Luanda ? <BR>Que esse exército tinha cometido as maiores chacinas desde o Cunene e saqueado todos os bens dos colonos portugueses incluindo o gado de topo de gama da Estação Veterinária de Nova Lisboa ? <BR>Que em conjunto com a Unita procederam a várias limpezas étnicas por toda a Angola ? <BR>As falsificações vão continuar enquanto houver quem tenha saudades do outro tempo. <BR>O papel dificílimo de Rosa Coutinho em Luanda apenas com 150 soldados fieis - todos os outros foram devidamente enquadrados pelos oficiais para não combaterem - mesmo quando estavam em perigo populações civis, de qq cor, diga-se, foi uma obra de arte político-militar: Digo-o porque sei. <BR>Quando, para evitar a tomada de Luanda pelos hordas da UPA e do Mobutu , o RC enviou 100 homens fieis ao encontro de mais de 5.000 soldados e com isso os fez parar, tendo prendido muitas centenas deles, à mão, apanhados a dormir dentro das matas do Norte de Angola, isso foi um dos mais extraordinários feitos e grande contribuição para evitar mais um banho de sangue. <BR>António Barreto está em roda livre há muito tempo e desesperado por não ser ministro de qq coisa. Dispara a torto e a direito. é ver o que tem vindo a dizer sobre a Ministra da Educação e sobre os professores, coitadinhos. <BR class=incorrect name="incorrect" <a>MFerrer</A> <BR><BR>
No SORUMBÁTICO (http://sorumbatico.blogspot.com), onde, ao domingo à noite, António Barreto afixa as suas sempre interessantes crónicas, está também a de Ferreira Fernandes (autor convidado do blogue) que diz o óbvio: a carta que A. Barreto cita não tem pés nem cabeça.
Os primeiros comentários que recebeu (inicialmente crédulos), foram dando lugar, com o decorrer das horas, a outros de teor muito diferente.
Talvez valha a pena ler.
No Público de hoje (27 Abr 08), António Barreto retracta-se no que toca a tão melindroso assunto. Escreve:
Correcção: Há duas semanas, citei, nesta coluna, uma carta atribuída ao antigo Alto-comissário em Angola, Rosa Coutinho. Esse documento fora reproduzido em fac-símile num livro de Américo Botelho editado em Lisboa em 2007, “Holocausto em Angola”. Desde então, que eu soubesse, a sua autenticidade não tinha sido posta em causa. O Almirante Rosa Coutinho acaba de negar, na revista “Visão”, a autoria de tal carta. Lamento ter utilizado como argumento esse documento apócrifo. As minhas desculpas ao senhor Almirante e aos leitores.
Como habitualmente, a crónica completa será afixada no Sorumbático (http://sorumbatico.blogspot.com/), logo à noite.
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