Joana Lopes evoca hoje os quarenta anos que passam sobre a “Primavera de Praga”, essa primavera política breve e pouco depois esmagada por tanques de invasores e ocupantes, provavelmente a prova mais provada da impossibilidade reformista após o momento em que o comunismo atinja o patamar da hegemonia, momento político em que, num ápice e por sede insaciável de poder total, paladinos dos direitos sociais dos mais fracos se transformam em repressores musculados. Dubcheck e seus seguidores, em 1968, quiseram fazer a síntese impossível entre comunismo e liberdade e os povos checo e eslovaco pagaram caro essa experiência de, durante uns breves meses, lerem jornais não censurados e elegerem as suas organizações. Mas, enquanto dura, uma primavera é uma primavera. Honra, portanto, à efeméride.
Também hoje, no “Público”, pode ler-se uma interessante entrevista com Slavenka Draculic, jornalista e escritora croata, actualmente em Portugal para lançar o seu livro “Não faziam mal a uma mosca”, da qual cito estas duas passagens sobre as experiências do poder comunista:
"O socialismo falhou porque foi implantado em países demasiado atrasados. Como me disse uma vez Kenneth Galbraith, se o comunismo tivesse nascido na Suécia teria sido completamente diferente." Em suma: o comunismo seria bom em países que não precisam dele. Onde era necessário, só piorou as coisas.
(…)
Com a excepção da Checoslováquia, nenhum destes países tinha tradição liberal. Passaram directamente do feudalismo para o socialismo.
Regressando ao drama primaveril checoslovaco de que hoje se celebra a passagem do 40º aniversário, Slavenka Draculic coloca uma ênfase importante na excepcionalidade checoslovaca. De facto, a Checoslováquia era, antes da segunda guerra mundial, não só uma importante potência industrial e cultural da Europa, como acumulava uma razoável experiência de tradição na prática normal da democracia (no período entre as duas guerras mundiais). Esta mesma tradição liberal, interrompida com a ocupação nazi (1938) e o domínio soviético com regime de partido único só abolido em 1989, depois de um afloramento breve em 1968 que inclusive “contaminou” parte importante das fileiras e da direcção do partido comunista, permitiu que o retomar da vida democrática, após a queda do comunismo, proporcionasse não só um pacífico divórcio entre checos e eslovacos como o facto de a República Checa ser hoje uma democracia consistente e personalizada no seio da União Europeia. E, de facto, no quadro dos países que viveram sob a bota da ditadura comunista, os checos seriam os que “menos mereciam” um regime que, pelo desenvolvimento que haviam atingido, arrastou uma “interrupção política” que os fez regredir na política, no uso da liberdade, na indústria, na tecnologia e na marcha do progresso.
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