De um mail de Clara (aqui reproduzido), uma portuguesa que viveu o princípio de uma barbárie semi-conhecida, com meio mundo a assobiar para o lado:
Mas, agora que posso, tenho que começar a falar. Devem saber o que se passa no Tibete... O que vos posso dizer é que tudo é muito mais violento do que mostram na televisão. Foi muito, muito violento. Para os tibetanos vai ser um massacre. Nunca vamos saber quantos morreram ou morrerão. Para nós, além de violento psicologicamente, foi mais perigoso porque acabou por se saber que fomos os dois (eu e o Miguel) as únicas testemunhas do princípio de tudo (no mosteiro de Drepung, onde estávamos no dia 10 de Março, por acaso).
Ficámos imediatamente controlados pela polícia ao ponto de, a caminho para o Nepal, nos dizerem que estávamos presos no hotel. Nunca tinha sentido o que era estar "presa", não porque tivesse feito alguma coisa mas porque não queriam que falássemos. O nosso mail e telefone ficaram, também, imediatamente controlados e as nossas máquinas fotográficas bem inspeccionadas.
Vimos a maior violência policial que podem imaginar, sobre pessoas desarmadas. Não vimos ninguém morrer, mas sabemos que muitos dos monges com quem estivemos durante todo o dia 10, morreram depois, nesse mesmo dia. Vai ser um massacre em Lassa. Tudo o que disserem nas notícias de contrário podem acreditar que é mentira. Há lugares no mundo onde pessoas morrem por terem opinião.
Faltou no dramatismo do testemunho de Clara, o conveniente final feliz que atenuasse o efeito da dor vivida e transmitida: os Jogos Olímpicos estão quase aí.
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