Quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008
Vai ser uma grande Marcha. Na tarde de terça-feira, já largos milhares de militantes e simpatizantes do PCP se tinham inscrito para os autocarros que, de Norte a Sul do País, rumarão a Lisboa no sábado. (…) Durante o percurso, à passagem pelo Tribunal Constitucional (na Rua do Século), os militantes comunistas que o entenderem exibirão o seu cartão do PCP, numa afirmação do direito à liberdade de organização partidária e de defesa de todas as liberdades democráticas.
Imagem (que, é claro, nada tem nada a ver com o texto): Transportes públicos em Cuba. Ou o drama diário de milhões de cubanos, não para “marcharem” ou irem tomar banho a Varadero (vício capitalista de que os cubanos se libertaram), mas para tentarem conseguir, de autocarro, fazerem os trajectos casa-emprego e emprego-casa.
E para os que não têm cartão, talvez este poema de Rimbaud, a lembrar que sem nos revermos, ou desiludidos com os cartões que andam por aí, é possível «marchar»:
«A bandeira reflecte a paisagem imunda e a nossa gíria abafa o som do tambor.
Nos centros alimentaremos a mais cínica prostituição. Massacraremos as revoltas lógicas.
Às terras aromáticas e dóceis! – ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.
Até mais ver!, não importa onde. Recrutas do próprio querer, teremos a filosofia feroz; inaptos para a ciência, esgotados para o conforto; e que os outros rebentem. Este é o caminho. Em frente, marcha!»
Jean-Arthur Rimbaud, in "Iluminações / Uma Cerveja no Inferno" assírio & alvim, 1999
trad. Mário Cesariny
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