A Economia ainda não está preparada para valorizar a micro-economia. Ou, afinal, a Economia ainda só é macro-economia. Estas deduções de bolso faço-as pelo facto de o Prémio Nobel atribuído a Mohammad Yunus e ao Banco Grameen, ter sido o da Paz e não o da Economia.
A visão empreendedora de Mohammad Yunus, na área do micro-crédito, resultou exactamente porque é um muito bem preparado economista e teve percepção genial de uma fatia de mercado financeiro desaproveitado (nem como nicho era encarado) e que podia envolver muitos milhões de pequenos investidores de pequeníssimas poupanças que somadas dariam somas consideráveis. Para mais, como factores sedutores de símbolos sociais (o que ajuda sempre um bom negócio) numa actividade puramente financeira, apareciam os aliciantes de aliviar a pobreza de muito pobres e dirigir-se preferencialmente à gestão empreendedora de mulheres. Tudo, assim, justificativo para que Yunus e o Banco Grameen merecessem o Nobel da Economia. Porque de mestria em economia se tratou e trata. Aliás, a Comissão Nobel diz isso mesmo quando fundamentou o galardão: «Todo e cada indivíduo no mundo tem o potencial e o direito de viver uma vida decente. Em várias culturas e civilizações, Yunus e o Banco Grameen têm demonstrado que mesmo os mais pobres dos pobres podem trabalhar para o seu desenvolvimento».
Seria demais esperar que a fortaleza solene da Economia integrasse como feito de um dos seus um caso de sucesso financeiro na área da micro-economia e do micro-crédito. Tanto mais que fazia entrar os muito pobres como alvos e beneficiadores de operações financeiras no mundo reservado aos grandes problemas, aos grandes empreendedores e às grandes soluções para o mundo. Quando, como tantas vezes se diz, a Economia não é coisa que os estúpidos entendam. Esses gramam-na, não riscam.
Mas se o Banco Grameen meteu milhões de pobres, sobretudo muito pobres, através do micro-crédito, a deixarem de ser tão pobres quanto antes, por uma via pura e ortodoxa de capitalismo, o mérito de Yunus não pôde deixar de ser assinalado com direito a Prémio. No caso, deram-lhe o da Paz, sob a justificação de que, com menos pobres, baixa o risco de termos mais guerras. E assim todos nos entendemos. A Economia continua assunto da macro-economia, os assuntos dos pobres é do pelouro das vias exploratórias para que não armem zaragata. Ou seja, assunto de guerra ou de paz. Evidente e descarado. Sedutor, embora filisteu, também.
A Comissão Nobel podia, já agora, ter sido mais explícita. Por exemplo, justificar o Prémio a Yunus pelo seu contributo à Paz nas Ideologias. Explicando, preto no branco, que o mérito do insigne e bem sucedido economista do Bangladesh foi mostrar que, para descrédito de Marx e Lenine, os pobres se podem emancipar (e acalmar) pela via capitalista. Sem guerras, revoluções ou exigências de distribuição mais equitativa da riqueza. Sobretudo, sem atropelos à Economia.
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