A reconciliação com a Líbia é procissão que ainda vai no adro. Estava Blair a sair de Tripoli e uma delegação da Shell a chegar para assinar um gigantesco contrato petrolífero. Outros lá irão à tenda do Kadafi. Outros contratos serão assinados.
Verdade que Kadafi já não é o que era. Terá aprendido com a sorte de Sadam, passando a cuidar da pele, salvando-a. Já lá vai o tempo desse monumento de "criatividade ideológica" chamado Livro Verde, próprio para a iniciação política de crianças.
Nas três vezes que andei pela Líbia, tive a oportunidade de conhecer esse país bisonho e sui generis. Corri-o de lés a lés, quase só me faltou ter cabidela na tenda móvel do grande líder. A Líbia é uma fatia de país, estende-se junto ao Mediterrâneo e o resto é árido, desértico e fracamente habitado por uma ou outra pequena tribo berbere. De uma maneira geral, os líbios (muito poucos) ou trabalham na burocracia estatal, ou vigiam as empresas petrolíferas, ou estão nas Forças Armadas e na Segurança. A excepção será a dos comerciantes. Todo o outro trabalho necessário de realizar, é feito sobretudo por palestinianos, egípcios e iemenitas. E pelos europeus que garantem a prospecção, exploração e transporte do petróleo e do gás, vivendo em cidades-guetos perdidas deserto dentro ou em locais isolados junto do mar. Há dinheiro, muito dinheiro. Nas vezes em que lá estive, era alojado em hotéis de cinco estrelas a estrear, passados dois anos, ou o hotel estava já em ruínas ou tinha sido deitado abaixo para construção de um novinho em folha. As estradas estavam juncadas de pneus abandonados, porque quem tivesse um furo não podia pensar em repará-lo, deitava o pneu fora e comprava um novo. As presenças histórica e arqueológica romana são impressionantes, mas está tudo em bruto por não haver estrutura turística. Vigorando a absoluta lei seca, é impressionante o vai-vem até à Tunísia para se beberem uns copos valentes. O culto a Kadafi enjoa pelo excesso, mesmo segundo os padrões árabes. Perguntaram-me a religião para me passarem visto. Come-se mal, pouco existe para comprar. Os líbios compram no estrangeiro. Quando lá estive até compravam esposas na estrangeiro (sobretudo em Inglaterra, França e Suiça), preferindo as louras.
As reservas de petróleo (e sobretudo de gás) são significativas. Está muito perto dos portos europeus. A Líbia é um país com futuro. E tem Kadafi.
De Joo a 4 de Abril de 2004
Caro António, não tenho informação concreta mas julgo que as mudanças de Kadafi têm a ver com o desaparecimento de cena (e do reino dos vivos?) do número dois do regime, um tal Coronel Jaloud. Quaando por lá andei, ele era o verdadeiro cérebro do regime. Depois, julgo que terá caído em desgraça. O certo é que o nome do sujeito desapareceu das notícias. Abraço.
De Joo a 4 de Abril de 2004
Boa viagem e boa estadia, estimada Deméter. Espero bem que nos mande crónicas de lá. Porque em Angola há de tudo, até internet. Saudação amiga.
De Antonio Dias a 4 de Abril de 2004
É. O quinto cavaleiro (Kadafi) tem isso tudo e os seus pseudo adversários têm medo dele. Se bem que como diz o João, Kadafi já não é o que era. Está velho, cheio de mulheres e de dinheiro, ri-se de tudo e de todos e, como ele próprio disse, há anos, tem duas mãos, onde quase toda a gente lhe vai comer.
De
Demter a 4 de Abril de 2004
Comento no último post para marcar até onde li... mas quero lhe contar que vou à forra em Angola, conferir de perto as informações que tenho, muitas vindo de você. Estou trabalhando num grupo empresarial que tem braços em Luanda atuando no setor de transporte coletivo e rodoviário e na coleta de lixo. Aguarde. Beijos!!
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