![doc_b[1].jpg](http://botaacima.blogs.sapo.pt/arquivo/doc_b[1].jpg)
Há pessoas que conhecemos de outros escritos e intervenções, sobre quem nos apetece dizer: a falta que este tipo faz à blogosfera. E dizemos isto como se a blogo-corporação fosse algo de selecto ou recomendável. O que não está longe de ser, como sabemos todos. Mas enfim, não fica mal um certo espírito de grupo. Ou espírito de equipa como é mais de bom e moderno tom.
Bem, isto não é mais que um pretexto ou intróito para justificar o roubo ao
Ivan Nunes de um excelente texto do Paulo Varela Gomes:
Eu gostava de ter sido não só o piloto que disparou um dos mísseis que fez o cheique em fanicos mas o próprio míssil. Ah quem me dera ver aqueles olhinhos de crápula a esbugalhar-se no último micro-segundo...
Digo-te: bebi um copo de prazer à saúde de quem tomou a decisão, politicamente errada, claro, de consequências provavelmente dramáticas, mas sentimentalmente das decisões mais satisfatórias, mais preenchentes da alma, que já tive oportunidade de saudar na minha vida.
Na minha hitlist pessoal, o Yazinzito da mãezinha dele figurava em posição muito alta e fico felicíssimo de o ver assim duplamente vítima dos desportos radicais, o futebol e o encorajamento dos homens-bomba, ao último dos quais dedicou a vida paraplégica e as mortes dos outros.
O falecimento dele não é um falecimento útil como o do Savimbi ou, por exemplo, o - tão desejável - do Berlusconi (espero sinceramente estar com isto a dar ideias a algum grupo terrorista desempregado) que, ao desaparecerem, a vida dos respectivos povos melhora instantaneamente. O fanicamento do cheique Yazin adianta pouco porque há muitos e muitos cabrões do calibre dele entre a cabrãozada palestiniana. Mas, mesmo assim, satisfaz.
Mais importante, porém, é que não adianta grande coisa discutir o cheique Yazin em picadinho do ponto de vista político, até porque estou persuadido de que ele não foi morto por considerações políticas. Foi morto por duas razões, uma curta e uma comprida. A curta é que foi possível, ou seja, os israelitas andavam a ver quando é que podiam, ou seja, quando é que dava para lhe acertarem com 100% de certeza e sem magoarem muita gente em volta.
Naquele dia, àquela hora, um tipo qualquer disse ao Sharon que sim, o Sharon perguntou «Tem a certeza?», o outro confirmou aí umas três vezes e foi-lhe dado o «go ahead». Cheique Yazin em bocadinhos. Há muitos mais à espera do dia certo e da hora certa, sem que se interponham pelo caminho quaisquer considerações políticas, tréguas, tratados, promessas. Apenas: podemos ou não podemos?
Isto leva-nos à segunda ordem de razões, as compridas, incompreensíveis para todos os que pensam que o Estado de Israel é apenas um estado moderno como os outros - quando afinal é, até um certo ponto, um estado parecido com os inimigos que combate e que o combatem, um estado do século XXI, um estado da Paixão de Cristo de Mel Gibson. Israel mandou matar o cheique Yazin por vingança. E condenou à morte todos os palestinianos envolvidos em atentados contra cidadãos seus. Assassiná-los-á. Agora ou mais tarde, daí a cinco, dez ou vinte anos. A eles, ou aos filhos ou aos netos. O estado de Israel pode negociar com Arafat, com o Hamas, com as Brigadas de Al Aksa. Sharon ou os outros podem cumprimentar os seus dirigentes, dar-lhes palmadas nas costas, posar com eles para fotografias, e até respeitar tratados. Podem, em resumo, ocupar-se de política com eles à maneira moderna. Mas, uma vez fechadas as portas e desligadas as câmaras de televisão, mandará assassiná-los. É como a Mafia. Uma coisa são os negócios, outra é a vingança, aquilo a que a Mafia chama a honra, uma velha cultura mediterrânica, que afinal é semítica e que provém, em última análise, do Deus de Israel, o Deus do Antigo Testamento.
Israel não perdoa a quem lhe assassina os filhos. E faz questão que isso fique clarinho. Não há considerações políticas de qualquer espécie que detenham o braço da sua vingança. Acho que esse filho da puta do Yazin sabia. Como sabe o Arafat e sabem os outros. Afinal, são do mesmo género e filhos do mesmo Deus.
Nós, modernos, civilizados e filhos do ar condicionado, é que não percebemos nada daquilo.