Seria um estulto egoísmo nacionalista os portugueses beneficiarem em exclusivo da benção do charme político de Jerónimo de Sousa. Felizmente, o Líder não pensa assim. Em perfeita consonância com a matriz internacionalista da sua organização. Tanto que, recentemente, espraiou os seus dotes de simpatia sedutora pela Ásia numa memorável e impressiva visita à Índia. Os resultados foram exaltantes como se pode depreender da entrevista que deu, após regresso à luta lusa contra o governo direitista do PS, ao órgão oficial do partido que dirige.
Nesta entrevista, ficamos a saber que “esta deslocação foi resultado de um convite feito pelos dois partidos [Partido Comunista da Índia e Partido Comunista da Índia (Marxista)] ao PCP” e ali teve uma “recepção calorosa, em que, por exemplo, centenas de pessoas – militantes e simpatizantes do PCI e também do PCI(M) – nos aguardavam no aeroporto, cobrindo-nos de flores, de simpatia”.
Sacudidas as pétalas das flores e passado o rubor por tanta simpatia, Jerónimo constatou que “A Índia é um país com mil e cem milhões de habitantes. Em que se poderia dizer que existem duzentos milhões de ricos e muito ricos e novecentos milhões de pobres e extremamente pobres. O que de facto impressiona é a dimensão dessa pobreza que se verifica nas ruas dessas cidades.”
Complexo, mas não indecifrável, terá sido, depois, o entendimento dos paradoxos políticos que levam os dois PC’s indianos hospedeiros, no desiderato de uma divisão social “duzentos milhões / novecentos milhões”, serem (ambos) uma base de apoio político do governo indiano em funções (dirigido pelo grande partido burguês – o Partido do Congresso). Mas como Jerónimo não desarma perante qualquer complexidade dialéctica, ele entendeu bem a posição dos seus camaradas indianos: “Aos comunistas [indianos] colocou-se a questão, não de um apoio explícito ao governo do Partido do Congresso, mas a definição de um programa mínimo. O que não obstaculiza a luta contra esse mesmo governo em termos de políticas económicas e sociais e particularmente no plano da política externa. (…) Portanto, esse foi o caminho escolhido pelos camaradas, tanto do PCI como do PCI(M).” Ou seja, um exemplo de praxis do contraditório. E que fará a alegria intelectual inspirada de António Vilarigues numa sua próxima aula de materialismos dialéctico e histórico a partir da cátedra de opinião que o jornal “Público” lhe concede.
Felizes os indianos. Muito bem empregue terá sido o investimento das muitas pétalas de flores com que acolheram o Líder. Nós também. Que mais não seja por esta espécie de “regresso à Índia”, esse velho sonho lusitano-saudosista. Agora com o verniz internacionalista.
O que Jerónimo não esclareceu, nem sobre isso o entrevistador do seu jornal se atreveu a questioná-lo, foi porque raio visitou a Índia a convite de dois (!) PC’s. Terão por lá um PC para os “duzentos milhões” e outro PC para os “novecentos milhões”? E se um se intitula "marxista" o outro é o quê?
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