A preguiça intelectual e cívica que tem a importante vantagem emocional de proteger a inércia da tranquilidade das opções ideológicas tomadas (muitas vezes pelas mais generosas intenções) impede muitíssima gente de aplicar os mesmos critérios de análise perante os factos ocorridos em todos os lados das barricadas, evitando encarar sequer aqueles que causem desconforto. Neste aspecto, nenhuma outra corrente além do estalinismo foi capaz de aproveitar tão bem a importância política dos idiotas úteis. Por cá, os apoiantes da CDU-PCP dão-nos ricos e variados exemplos deste fenómeno (um dos mais interessantes para estudo em termos de politologia). Exceptuando a sua direcção, os seus empregados partidários, municipais e sindicais (os quais defendem, além do mais, o pão para as bocas que sustentam, o que lhes retira liberdade de pensamento e acção), e um ou outro paranóico político (também há) que gostaria de ter sido tchekista, estes cúmplices por interesses próprios quando não pessoais, o que acontece com a grande massa eleitoral e simpatizante da CDU-PCP, ou seja, os estalinistas cândidos e inocentes da nossa terra? Só pelo separar de águas entre o "nós" e o "eles", julgando com a máxima severidade o imperialismo capitalista e afins e com a máxima condescendência os pedaços sobreviventes da patologia leninista (relevando as conquistas sociais, como a saúde e a educação), consegue conciliar a valorização de um património de luta contra a opressão, em que se inscrevia inevitável e automaticamente a luta pelas liberdades e pela dignidade humana, com um silêncio cúmplice para com um passado de atrelamento a um império odioso e poderoso de que se cumpriam as tarefas geoestratégicas, a defesa de estados policiais assassinos e torturadores e a alimentação no presente de uma nostalgia pelo "querido muro de Berlim", isto enquanto se vota tranquilamente na representação eleitoral do estalinismo à portuguesa.
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