Eu sei que os congressos dos partidos sempre foram espaços concentrados de rituais e de celebrações, mais que que de debate, de esclarecimento e de decisão. Mais locais para paixão que para a inteligência, a crítica e o entendimento. Janelas fechadas sobre o mundo, com reposteiros mediáticos, do que abertura à sociedade, aos problemas e às soluções.
Mas acho que, como tudo, os congressos estão cada vez pior do mesmo. Mais previsíveis, mais vistos e revistos e mais terrivelmente aborrecidos. Porque ostensivos na manipulação e na vil tristeza de espectáculo de carneiros a beijarem altares de redil.
Já foi tempo em que o PCP era mestre a instrumentalizar e a representar conclaves de pseudo decisão colectiva. Continua, mas mais chato e mais decadente. Mas deixou de ser arremedo de excepção na celebração de missas partidárias. O exemplo pegou e bem. Tanto que ficará como marca da democracia portuguesa, o ensinamento partidário de fazer congressos à la carte, importando a inspiração do génio de Brejnev para a vida partidária lusitana.
O PS, com o método da prévia eleição do Secretário Geral, reduziu os seus congressos a actos de celebração inevitável e, quando muito, medidas do grau de tolerância interna para com as diferenças. Mas, inevitavelmente, o bocejo substituiu o debate. A máxima autenticidade dos delegados está no sono chato em luta contra o enfado. E a maior valentia no apelo para não se esmagarem as minorias.
Este congresso de Barcelos é apenas um espectáculo pimba de congelamento de um partido num destino político traçado pelo acaso e de conservação de poder. Enquanto se tem Santana Lopes como arremedo de primeiro-ministro, pouco melhor se esperaria da sua entronização pela socapa da sacristia. O barro do Galo, a que se acolheram, é o seu melhor emblema. Merecido.
Resta confiar que os caçadores de perdizes, os cultivadores de minhocas e os pescadores de enguias saibam manter vivos, com sentido de futuro e democráticos, os seus congressos. Se é que os fazem.