Enquanto o mundo pálido e rico aproveita a época para tratar do bronze nos corpos, o mundo pobre, nomeadamente o dos que já bem bronzeados nasceram, arranca corpos em bronze para sobreviver. São assim as muitas vidas com que se faz o mundo da vida.
Na Guiné-Bissau, onde os recursos são menos que escassos, pouco mais resta como recurso de fazer pela vida que a estatuária que por lá plantámos e deixámos para os guineenses se lembrarem de nós e de outros como nós. Muita dela inútil como registo de memória e de homenagem, pois fixam ligações a histórias e personagens de má memória ou a memórias exógenas. Como, por exemplo, a estátua, da autoria do escultor português Manuel Pereira da Silva, evocando um Presidente dos EUA (Ulisses Grant), especada entre os calores e a miséria da Guiné. Francamente, para que raio lhes servia olharem e cumprimentarem um antigo presidente dos “camones” enquanto a barriga tocava as horas? Como a necessidade aguça o engenho mais a vontade do alívio do inútil, pela calada da noite, a estátua avantajada do Grant foi apeada, embrulhada e a, esta hora, já deve estar fundida e o valioso bronze a render uns dinheirinhos aos gatunos imaginativos. É a lei da necessidade a imperar sobre a memória imposta pelos pálidos ricos que se bronzeiam no verão sem atenderem a todo o préstimo que uma estátua inútil pode render no mercado informal do bronze.
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