O Manuel Correia deu corda a algumas questões que aqui eu tinha colocado. Assim:
Aquelas pessoas que João Tunes enrola na capa de uma espécie de “solidão de esquerda”, e entre as quais muito provavelmente se considera, prefiguram, porventura, a nova relação que os partidos, para sobreviverem, deverão estabelecer com os indivíduos susceptíveis de os apoiarem, no futuro, caso a caso, causa a causa, passo a passo e voto a voto.
Os militantes ligados aos partidos por laços legionários, meio militares meio sociedades secretas, impedidos de criticarem os líderes, de condenarem os erros mais espalhafatosos, obrigados a remeterem-se a um silêncio comprometedor ou ao discurso tolo das justificações forçadas, estão a desaparecer.
As organizações políticas, incluindo os partidos, não. Vão transformar-se. Os perfis dos “militantes” estão a alterar-se velozmente. Orquestrando a nova moda dos partidários mais descomprometidos, alguns comentadores têm ensaiado uma demonstração, ainda frágil, mas sugestiva.
Dir-se-ia que uns pensam pelas suas cabeças e os outros também..., só que não o podem revelar...
As liberdades e os direitos individuais foram deixando de caber nas relações partidárias tradicionais.
As pessoas sem obediência partidária estrita estão, em numerosos casos, a jogar papeis determinantes. Poderão, muito provavelmente, dar uma contribuição para alterações efectivas nos partidos.
Por experiência própria e elevada atenção aos desaires alheios, atrevo-me a alvitrar que esta postura poderá ser mais eficaz do que a de quem continua a pensar, insistentemente, que é “por dentro” que as comunidades partidárias se reformam.
É uma questão simples: a afirmação da cidadania torna o vínculo partidário menos privado e a obediência partidária mais problemática.
Por isso, os partidos estão a ficar reduzidos, a pouco e pouco, aos votos que conseguem conquistar e a um aparelho clientelar cada vez mais fechado.
Se procurarmos com atenção, vem tudo nos jornais.
Não queria deixar passar ao lado este contributo que alimenta uma reflexão que reputo de interessante e que muitas vezes é arredada no comodismo das etiquetas e dos chavões condenatórios ou salvíficos. Aqui fica, pois, a chamada de atenção para o texto do Manuel Correia. A continuação da conversa seguirá mais tarde quando tiver tempo para dedicar a uma reflexão mais aturada sobre o tema (entretanto, como muleta, vou ver se consigo encontrar disponível o texto da intervenção de Manuel Villaverde Cabral ontem feita na apresentação pública do livro “Conseguir o Impossível” sobre a campanha de Manuel Alegre e que pode dar achegas importantes ao fundo desta problemática).
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