Quinta-feira, 26 de Abril de 2007

CINCO SÁBIOS

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Sábio é o que tem a arte de saber sentindo, fugindo aos lugares comuns, frases feitas e até ao discurso, conseguindo-o inclusive no pretexto tão difícil do 25 de Abril. Eu comemorei a data a escolher sábios espalhados por aí. E deu assim:

 

Um:

 

O cidadão só não é naturalmente e por obrigação um político quando convive com uma ditadura, mas isso o 25 de Abril tirou todas as desculpas de se brincar às escondidas depois de adultos, entre adultos.

 

Dois:

 

a democracia é coisa que está sempre em obras, o que é uma chatice. Mas mais vale viver entre andaimes do que entre grades sejam de ferro ou tão só tecidas de medo. E é isso que não é fácil de ensinar a quem nessa altura tinha dez, doze quinze anos para já não falar nos outros ainda mais novos. E todavia foi por eles, para eles que alguns se arriscaram. Não estou a pedir grande meditação sequer um minuto de silêncio. Prefiro mesmo que o dia tenha sido passado como qualquer outro feriado porque isso é o verdadeiro sinal da vitória: viver na normalidade.

 

Três:

 

Acordaste-me, cedinho, para a notícia. Ainda ouço a chave na porta, a tua voz. Ainda vejo o teu casaco azul. Saímos para a rua. O dia estava parado. À espera. Na faculdade, aproveitámos para suspender as aulas. Fomos para a Praça, à procura de notícias. A rádio passava música sinfónica. Qualquer pessoa com mais de dezoito anos percebia que era música fascista. E que os fascistas estavam aflitos.

 

Quatro:

 

deixei há alguns anos de ir à festa a cada 25. Mas continuo a falar do 24, pois assim a urgência fica mais fácil de entender. E a falar também daquele tórrido 26, no qual uma outra urgência continuava na rua e jamais dormia. Talvez assim, para quem o não viveu, ou para quem dele se vai esquecendo, Abril possa fazer algum sentido.

 

Cinco:

 

Salgueiro Maia já morreu, mas não é por ter morrido que o prefiro aos cravos. É que, por muito que ele gostasse deles, dos cravos, e eu disso não sei, nunca lhe vi nenhum cravo na sepultura. E a essa, à sepultura, vi-lha.

 

Publicado por João Tunes às 00:21
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De Anónimo a 26 de Abril de 2007
Adorei todas as postagens deste dia 26, em especial ao que diz respeito ao SÁBIO. Ontem não entendi se houve uma comemoração do 25 de Abril, ou uma inauguração do polémico túnel, do também polémico Marquês. Também não entendi porque é que a polícia mandou identificar os jovens que livremente desejavam, na festa da liberdade, atirar uns tomates ao cartaz que apela à Xenofobia em Portugal. Mas também não entendi porque é que o dito cartaz inconstitucional, foi declarado constitucional. Também não percebi porque foi mandado retirar o cartaz dos "Gatos fedorentos", porque a CML, não havia licenciado, quando a CML que licenciou o cartaz do PNR, fez uma Moção, contra esse mesmo Cartaz. Concluo que existem demasiadas coisas que não entendo, mas hoje também já me disseram que penso demais. Pois, em 74 só tinha 8 anos, nunca cheguei a sentir que não se deveria pensar. Mas, cada vez mais acho que temos de pensar para dentro. Será que algum dia conseguirei? Não creio. Mas porque será que sinto que o povo dorme e só acorda para as novelas do futebol? Pronto, lá estou eu a pensar outra vez!!!!!!!!!!!!!!
De Anónimo a 26 de Abril de 2007
Esqueci-me de assinar o comentário acima exposto.
Maria José Luís. Aquela de ficar anónimo, só mesmo para quem não dá a cara, lol.
De João Tunes a 28 de Abril de 2007
Pode pensar e deve falar. Ora essa! Obrigado por exprimir aqui as suas opiniões. Já agora: porque não cria um blogue? Abraço.
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