Rumo ao sol do Rossio, desfila a saudade da festa, a vaidade dos feitos e os equívocos da marcha amalgamada "dos comunistas e outros democratas", projectando exigências que procuram depreciar o feito maior, o da liberdade e da democracia, invocando recuos, desvios e traições, como se os que marcham fossem senhorios do património da mudança havida 34 anos atrás e tivessem as mãos limpas de entorses preversas. Deixei de dar para esse peditório. Hoje, fico-me pela flor, a flor que até hoje mais amei e mais me comoveu. E que, sem falsas modéstias, também é minha pois dei alguma coisa, não muita mas tudo que fui capaz, para que o craveiro florisse. Quanto ao resto, passo a palavra à História.
Há quem diga que parece um violão deitado no Atlântico. É uma boa imagem para uma ilha com um povo que embala a insónia das distâncias com poesia e música. Tenciono lá voltar amanhã, voando pela noite num desses pássaros de aço que por aí navegam, revendo paisagens humanas e de secas quebradas com verdes breves e que me marcaram desde quando conheci e descobri a Ilha de Santiago (embora o coração da minha nostalgia caboverdiana continue agarrado à Ilha de São Vicente) – o caos feérico da Cidade da Praia, a imponência da memória esclavagista na Cidade Velha, os novos ricos da emigração em Assomada, a imponência decorada em pedra da Serra da Malagueta, a ferida na memória do Campo de Chão Bom e uma das praias mais pequenas e mais bonitas entre as que conheço (Tarrafal). Vou lá passear os olhos, cheirar a morabeza, escutar os sons perdidos da angústia permanente de escravos abandonados e degustar o estado híbrido da eterna dúvida entre ficar e partir, o sentimento caboverdiano que eu mais partilho. Não estranhem, pois, a ausência próxima que, infelizmente, será curta.
Talvez a forma mais conseguida e calma de comemorar a data de amanhã seja a leitura do livro acabado de editar da autoria de Nuno Andrade sobre os acontecimentos ocorridos em 25 de Abril de 1974 dentro do Quartel do Carmo (*). O que não implica, claro está, que não se enfeitem a preceito com cravos bem vermelhos e estendam a colcha na janela, dando a mão à passagem de mais um ano em democracia.
O autor, oficial da GNR e historiador, recolheu documentos e testemunhos que nos mostram a face oculta daquele dia, contando como ele foi vivido dentro do último reduto do poder da ditadura. Mostrando-nos, surpreendentemente, como as coincidências, os acasos e os pormenores contaram tanto, decidiram tanto, como as circunstâncias, os factos e as pequenas e grandes decisões. E, neste sentido, o livro de Nuno Andrade é uma demonstração evidente da falácia da inevitabilidade histórica, mesmo em circunstâncias agudas de confluência entre factores objectivos e subjectivos a quererem impor um certo desenlace. Perante o que parecia óbvio e fatal, tudo acabou como acabou, com vencedores e vencidos nos lugares em que ficaram, porque se a ditadura estava podre e a ameaçar ruína, contou tanto como isso uma arma que encravou, uma ordem que não se cumpriu, pares de inimigos do dia que por acaso até eram amigos, uma hesitação pelo medo, mais coisas assim. Para quem viveu o Carmo de fora, lá tendo estado, de lá ouvido contar ou lido sobre os relatos do que no Largo do Carmo se passou, sempre tendo a frontaria do Quartel como muro opaco que abrigava o poder em fuga, estará longe de imaginar o que, naquelas horas compridas, a derrota se ia tecendo em permanente jogo de forças com a hipótese contrária, até que o rebentar do limite impusesse uma solução, aquela. E essa descoberta, esse saber sobre o outro lado, é o que o livro tem de mais fascinante.
Nuno Andrade, além da boa escrita, faz prova de mérito do título de historiador. Estão lá o rigor factual, a abordagem dos vários ângulos, a procura e teste de teses e pistas, a moderação no envolvimento com um dos lados das partes. Mas se o autor é historiador, também é “da casa” que continua a habitar o mesmo quartel, sendo, como é, oficial da GNR. E, neste sentido, perpassa uma certa condescendência para as atitudes e comportamentos da GNR encurralada nesse dia com a missão extrema de defender os próceres da ditadura. E, aqui, provavelmente, algum impulso de branqueamento terá ocorrido. No entanto, diga-se, sendo um dado para tomar em conta a eventualidade de alguma condescendência sobre a imagem da Guarda, que não parece haver um exagero de sentimento de pertença grupal que desmereça o essencial da obra e das suas teses. Como a de alguma atitude de passividade a caminho da neutralidade da GNR no ocaso da ditadura (de que era um dos pilares repressivos mais fortes) defendida por Nuno Andrade tem suporte em dois aspectos consistentes: o da cumplicidade tendencial entre oficiais da GNR (que, sendo do Exército, lá cumpriam missões) com os camaradas do MFA (a que acresce o culto tradicional na GNR de então para com os dois generais que estavam na retaguarda da revolução, ambos antigos oficiais prestigiados da corporação, casos de Spínola e Costa Gomes) e a clareza da fragilidade do regime e as suas poucas hipóteses de sobreviver e com os seus líderes, encurralados, a demonstrarem inépcia em se defenderem mais a ditadura com que açaimavam um povo em ânsias de mudar e respirar. Acresce ainda que Nuno Andrade, no tempero político do seu fio narrativo, demonstra um inquestionável apego aos valores democráticos, julgando a ditadura e a revolução libertadora por esse prisma e, nesse sentido, o autor não só se apresenta como sendo um oficial de uma "nova GNR" (não a que serviu a ditadura ou que procurou o regresso saudosista ao autoritarismo) e a eventual, mas ligeira, limpeza do passado da instituição, será uma forma de a represtigiar com condescendência retroactiva. O que, vindo de um oficial da GNR, num livro escrito com aprovação e incentivo institucionais, é para merecer a devida benevolência por mais ou diferente não se lhe poder pedir.
(*) – “Para além do portão, a GNR e o Carmo na Revolução de Abril”, Nuno Andrade, Edições Guerra e Paz
Se houvesse pão e vinho na Padaria Seramota de Mirandela, em vez de pão e jornal, poderíamos estar perante um caso projectado de liturgia neo-cristã. Assim, teremos apenas o fenómeno de uma padaria que enfarinha o marxismo-leninismo antes de o levar ao forno das consciências proletárias mesmo as que, presumidas, pensem não o serem. Nada que sirva para reflectir ou discutir, contraditar muito menos, apenas para servir de hóstia sagrada em regime de take-away na consagração a São Jerónimo. Ora leia-se este comovente naco de neo-realismo tardio capaz de fazer chorar uma pedra transmontana:
Quando se entra na Padaria Seramota, na zona antiga de Mirandela, dá-se logo de caras com um molho de Avantes colocado ao lado da balança, entre exemplares de O Militante e folhetos de propaganda do Partido. Emoldurado e exposto na parede está um prospecto do Partido comemorativo do Dia Internacional da Mulher, onde surge uma fotografia de Maria Inês Araújo, proprietária da padaria e militante comunista há mais de trinta anos.
São assim Maria Inês e o marido Acácio, com as convicções bem à vista. «Toda a gente sabe o que nós somos», afirmou Maria Inês. E ambos fazem questão que assim seja. Afinal, acrescentou Acácio, «temos honra e vaidade em seremos comunistas».
É com um sorriso aberto e algum descaramento que Maria Inês desafia os clientes a comprar o Avante!. Sejam eles quem forem. Se alguns, militantes do Partido, vão à sua padaria também com esse objectivo, são muitos mais os que lá vão apenas para comprar pão e que acabam por sair com o jornal debaixo do braço: «A senhora já sabe que sou da sua cor», responde um cliente. «Mais uma razão para comprar», remata Inês estendendo-lhe um exemplar. O cliente acede.
«Ó senhor presidente, não quer um Avante!?», grita a padeira detrás do balcão para um homem que passava na rua. Este entra no estabelecimento, sorridente. Após uma breve mas acalorada conversa sobre a actividade da Câmara Municipal, o homem sai, com o jornal. Ficamos a saber que é presidente de uma junta de freguesia e secretário da Assembleia Municipal, eleito pelo PSD.
«Nunca me sobra nenhum Avante!», diz Maria Inês. Quando não os consegue vender todos, oferece alguns, que paga depois ao Partido.
Como hoje é 24 de Abril e cada dia é uma efeméride da marcha da humanidade feita de flores e de furúnculos, aqui fica a competente evocação. No caso, a do tempo de patrulheiros de actos e de pensamentos para nos mantermos direitinhos como fiéis a Salazar e a Cerejeira. Demorava então a subida da coluna de Salgueiro Maia rumo ao Carmo e aproveitando o estado de povo-rebanho, bem tentavam serem garbosos e bem ataviados estes legionários de tão má memória. Eles merecem, a par de outros, a competente evocação. Tanto mais que, na actual ignorância dominante sobre o “antes”, poucos apreciarão quanto vale, por desvalorização da democracia, pensarem, escreverem e falarem sem terem estes “piolhos verdes” à perna.
Francisco Martins Rodrigues, quando vivo, ou não era conhecido ou poucos aturavam, sem um sorriso sarcástico-condescendente, a coerência da sua teimosia dogmática. Ouviu-o umas duas vezes intervir em debates e ele limitava-se a reproduzir certezas sem espaço para sequer uma aresta ser limada. Era a negação viva do diálogo, da conversa, da troca de ideias e da construção no cruzar de pensamentos. E as suas convicções comportavam, pela ideia fanática numa meta e num processo adjacentes a uma utopia vinda do século XIX, a condescendência absoluta para com o crime como meio útil de levar uma classe ao poder. Foi um homem político que não deixa herança de sementes. Não ensinou nada além da trajectória ondulatória dos seus dogmas vistos e revistos na procura do apocalipse na luta de classes. Não deixa obra. A democracia portuguesa nada tem a agradecer-lhe.
Divergiu com Cunhal e o PCP? Sim. Foi miseravelmente tratado pelo PCP? Sim. E depois? Isso diminui a evidência de que o “mal” que continua a existir no PCP, o seu estalinismo serôdio, seria ainda pior com Francisco Martins Rodrigues se este continuasse sempre de bem com Cunhal e com o PCP?
Não, não é para depreciar o PSD e o seu importante papel no equilíbrio democrático necessário à vitória do PS nas próximas eleições, mas não posso deixar de formular uma pergunta:
A versão portuguesa de Margaret Tatcher não chega um pouquinho tarde?
Atendendo às terríveis consequências que podem advir das congratulações e risos mal contidos com o despautério que reina no PSD, declaro que, pelo bem da estabilidade democrática, gostei que Manuela Ferreira Leite seja candidata e desejo-lhe que ganhe as eleições no seu partido. Respeitosamente, é claro. Porque todos os outros candidatos, devido à desgraça que são e à probabilidade de desvalorizarem as próximas pugnas eleitorais, "amolecem" o eleitorado, "engrossam" a abstenção e levam os eleitores de esquerda a "desobrigarem-se de contribuir para a derrota da direita".
Li algures que um bispo ganhou as eleições no Paraguai. E que é de esquerda. Se ambas as novas são verdadeiras, ele é mesmo bispo e mesmo de esquerda, trata-se de uma boa notícia. Já era tempo de a Igreja assumir responsabilidades e “meter a mão na massa” da governação para resolver os problemas dos pobres. Além de poder vir a inspirar o Cardozo que já deu várias provas de grande devoção religiosa (é o único paraguaio que conheço, um que parece um espeto para churrascos) para ele meter a trabalhar a cabeça e o pé direito.
Jorge Rosmaninho verberou o desprezo dos políticos africanos para com a perda de Aimé Césaire:
Nem um presidente africano nas cerimónias fúnebres de Aime Cesaire. Nem, ao menos, uma palavra, uma mensagem de condolências, um testemunho que rendesse homenagem ao criador da palavra "negritude".
Mas não há nada que não se entenda, procurando entender, incluindo as ausências e os silêncios. Se neles permanece o espírito autocrítico, terá sido por se sentirem demasiado “pequenos”. Caso contrário, terão pensado que, hoje, isso da “negritude” não se troca por dólares.
Paradoxalmente, foram muitos os políticos franceses que assistiram ao funeral. Além de Nicolas Sarkozy, compareceram Christine Albanel, Michèle Alliot-Marie, Rama Yade, Yves Jégo, Ségolène Royal, Lionel Jospin, Laurent Fabius, Pierre Mauroy e François Bayrou.
Imagem: Funeral de Aimé Cesaire, realizado em Fort-de-France (Martinica). Dominavam, no cortejo fúnebre, que reuniu milhares de pessoas, mulheres acompanhadas dos seus filhos que assim se despediram do poeta e político a quem chamavam "Papá Césaire".
Terminei a leitura de um livro que é paradigma destes tempos de desforra de um certo tipo de saudosismo da ditadura e da época colonial. Trata-se de um balanço feito pelo General Silva Cardoso sobre a mudança da ditadura para a democracia ocorrida em Portugal vai para 34 anos atrás (*).
Curiosamente, o autor deste livro sucedeu a Rosa Coutinho como Alto Comissário em Angola e ainda em pleno período revolucionário até Agosto de 1975 naquela antiga colónia (tendo antes, sido, sob presidência de Rosa Coutinho, membro da Junta Governativa de Angola, portanto colaborador e co-decisor das medidas que este tomou). Pelos cargos desempenhados, obviamente que o militar em questão merecia a confiança política mínima dos militares revolucionários como ele mesmo, embora se situasse num quadrante político mais direitista, tinha necessariamente, perante as mudanças em Portugal e quanto ao processo de descolonização, uma atitude colaboracionista ou, pelo menos, condescendente, mesmo que eventualmente crítica quanto a alguns aspectos. Posteriormente aos seus cargos em Angola, Silva Cardoso foi comandante militar nos Açores, director do Instituto dos Altos Estudos da Força Aérea e Presidente do Supremo Tribunal Militar (tendo, nesta função, sido o responsável pela recusa de uma pensão, por mérito do marido no restabelecimento da democracia, à viúva de Salgueiro Maia, como contribuiu ainda para a não atribuição do título de Marechal a Humberto Delgado quando tal foi proposto). Pois, apesar desta nunca interrompida carreira, Silva Cardoso escreve sobre a ditadura e a revolução como se tivesse sempre sido e continue a ser um legionário dos sete costados. Não só branqueia em absoluto os tempos da ditadura como qualifica o 25 de Abril como “revolução da perfídia”, insulta todos os militares de Abril (fazendo, para cada um, um retrato de velhacos, cobardes e vendidos), inventa patranhas infantis (como a de Cunhal ter preparado e trazido num avião 300 russos especialmente treinados para tomarem conta do aparelho do PCP e que teriam sido estes a montar as organizações locais deste partido), afirma que a guerra colonial estava ganha em todas as frentes e reserva o seu principal ódio de estimação para Mário Soares (**).
Como livro de ódios que é, este vale o pouco que vale. E, intelectualmente, não abona quanto aos primores histórico-culturais do general agora reformado. E a menos que António Barreto, tomando o gosto após albergar calúnia sobre Rosa Coutinho, decida credibilizar as suas atoardas biliosas, o livro não irá além de alimento das crendices ideológicas dos ressentidos com a democracia e o fim do império. Mas, além disso, a obra não deixa de ser significante quanto à emergência de um revisionismo assanhado, agora em voga, quando parecia termos atingido um patamar de consistência do viver democrático, em que afloram as questões não resolvidas com o fim da ditadura e do colonialismo. E, neste capítulo, muitos militares olhando as velhas fardas que começaram a vestir como profissionais de uma Forças Armadas ao serviço do fascismo e do colonialismo, aí estão a mostrar o esplendor das suas frustrações e vontade de corrigirem a memória, como suprema desforra para com a história. Incluindo aqueles que, nos tempos que fizeram e seguiram Abril, declaradamente ou pela calada, tenham baixado as espadas perante o MFA ou colocando-as mesmo ao seu serviço.
(*) – “25 de Abril de
(**) – Silva Cardoso demonstra, curiosamente, menos estima por Soares que aquela que não tem para com Cunhal, referindo-se assim a ambos: “Se fosse Deus punha os dois no inferno, mas para Soares guardava a fornalha mais quente” (pg 198).
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Adenda: Julgo que o Zé Albergaria tem razão e eu, como outros mais, temos andado a cometer um erro de designação: Rosa Coutinho não foi Alto Comissário em Angola mas sim presidente da Junta Governativa (de que Silva Cardoso e outro militar faziam parte). É quando Rosa Coutinho é substituído por Silva Cardoso que este inaugura aquele cargo criado nos Acordos de Alvor em 1975. Agradeço o reparo.
Do impagável César das Neves:
A esquerda ocidental desistiu de revolucionar a empresa e o mercado para se dedicar a revolucionar a família e o sexo. Aí existem oportunidades de fazer algo novo e progressista, desmantelando aquilo que a detestada burguesia e a odiada Igreja edificaram.
Há dois domingos, António Barreto publicou, no Público, uma carta de 1974, que disse ser de Rosa Coutinho a Agostinho Neto. Na carta, Rosa Coutinho, depois de "reunião secreta com os camaradas do PCP", ordenava ao presidente do MPLA aterrorizar "os brancos [portugueses], matando, pilhando e incendiando." E exortava: "Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos." Apresento os portugueses de que falo: Barreto é uma voz respeitada; Rosa Coutinho era o alto-comissário em Angola; e o PCP está no Parlamento. Não falo de gente menor e, no entanto, a extraordinária carta não teve eco. Com duas excepções: uma crónica minha, no DN (eu dizia que ela era falsa), e um debate na blogosfera. O que deveria ter acontecido: um sobressalto nacional para tirar a coisa a limpo. Diz-se que o governador português e um partido português exortaram um grupo estrangeiro a aterrorizar portugueses - e nada! Ou eu tenho razão, e a carta é falsa, ou este silêncio é doentio.
Nota 1: Admiti que, na sua crónica semanal de ontem no “Público”, António Barreto se retratasse ou confessasse ter sido acometido de uma ingenuidade indesculpável para com o seu estatuto de comentador público. Não o fez, antes passou adiante da lama com que, uma semana antes, sujara a escrita. Assim, confessou-se como sendo um colaborador de canalhices disposto a pescar nas águas turvas dos canalhas ou dos ingénuos dispostos a engolir canalhices (veja-se, na blogosfera, a par dos que denunciaram e verberaram a patranha, os que engoliram a trafulhice e lhe deram eco de crédito, espalhando a lama). Resta-me condená-lo, a António Barreto, à única censura de efeitos práticos que está ao meu alcance: deixar de o ler.
Nota 2: Sobre o mesmo assunto, ver aqui e aqui. Para sossego de tantos crédulos de contumaz inocência que por aí abundam (um deles, aventou para Rosa Coutinho a hipótese de levá-lo a Haia para ser julgado como "criminoso de guerra" no TPI, sendo secundado por quem propôs que o homem fosse despojado do posto de Almirante e expulso das Forças Armadas), declaro solenemente que a "carta" do segundo post é mera ficção.
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Adenda: É natural que alguns coloquem a questão de o Almirante Rosa Coutinho não aparecer publicamente a desmentir a atoarda, defendendo a sua honra. Por aquilo que escreveu João Vasconcelos Costa, invocando um conhecimento pessoal próximo (*), Rosa Coutinho, além de já ser uma pessoa idosa, está doente e impossibilitado de reagir. O que coloca uma questão ainda mais escabrosa neste lamentável episódio: porquê quanto a uma inventada carta “datada” de 1974, se esperar que passassem mais de trinta anos após a sua publicação num jornal na então África do Sul do “apartheid” (leia-se o que, na “caixa de comentários” deste post, diz Augusto) e quando o seu atribuído autor está corroído pela velhice e pela doença e, assim, incapacitado de responder e defender-se?
(*) – “Tenho por dever também defender outra pessoa atacada por AB e que, por razões de saúde, já não o pode fazer, o almirante Rosa Coutinho, pessoa que conheço muito bem e por quem tenho estima, embora discordando de muitas das suas posições políticas.”, escreveu João Vasconcelos Costa.
Quase metade dos militantes do PCP estão em “situações por esclarecer”, militando em parte incerta? Pelo menos é o que se deduz das palavras do Grande Líder:
Avançámos no esclarecimento da situação dos militantes inscritos, o que nos permitiu identificar no último Balanço da Organização cerca de 58 mil membros do Partido, mas precisamos de continuar a dar resposta às 44 mil situações por esclarecer.
(Jerónimo de Sousa, discursando em Santarém)
44.000 é muito militante tresmalhado. E, embora tal não tenha sido dito, deduz-se ainda que serão sujeitos a averiguações os 8 mil membros que se baldaram à manifestação do PCP em Lisboa “pela democracia e pela liberdade”.
Agora até Patinha Antão é candidato a líder. É deputado, foi chefe de gabinete e secretário de Estado. E já acha que é tempo de ser promovido a primeiro-ministro, dando um pulo na carreira. Ambição é coisa que não lhes falta. Pois Antão.
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