P - Sente-se realmente muito observado?
R – Nesta altura, na Turquia toda a gente está muito susceptível relativamente a tudo, e de uma maneira muito paranóica. Infelizmente, estamos a desenvolver uma espécie de cultura de linchamento. Mas vivendo neste país, temos sempre de ter cuidado com as palavras, esta não é uma sociedade ocidental e, no fim, acaba-se por se ser castigado pelo que diz. Mas o certo é que sobrevivi aqui. No Exército, há um enorme sector nacionalista, com um forte sentimento antiocidente, uma táctica para lutar contra o Governo que pretende meter a Turquia na UE… Bom, não, na realidade já não quer.
P – Ah, não?
R – Pois não, o Governo já não se empenha tanto na entrada na UE, precisamente devido a essa grande oposição.
P – Pois é uma pena. Penso que a Turquia deveria entrar na Europa. Abandonar esse projecto parece-me um desastre para a Turquia, para a Europa e para todos.
R – Talvez seja um desastre, sim. Mas o que é de facto fatal para a Turquia é não ter uma democracia desenvolvida. Isso sim, é o que me importa verdadeiramente. A questão da UE importa-me pouco, assim haja na Turquia uma democracia. Quero poder dizer tudo aquilo que desejo dizer, sem correr o risco de ser linchado por campanhas fascistas ou acabar na prisão.
[Da entrevista de Rosa Montero (“El País”) a Orhan Pamuk, escritor turco e Nobel da Literatura de 2006, transcrita na “Visão” de hoje]
A presença do PC Chinês como convidado ao Congresso do PS não é do mesmo género de cumplicidade que o convite às FARC para acamparem na Quinta da Atalaia?
Uma sondagem revela que 45,7% dos espanhóis quer a união entre Portugal e Espanha, com a maioria a defender que o novo país deve chamar-se Espanha, ter Madrid como capital e manter o regime monárquico.
Mas que generosidade! (e só o Euro nos salvava da peseta..)
Se Chavez não conseguir a ambicionada cadeira no Conselho de Segurança da ONU, é porque o petróleo já não vale o que tanto valeu.
Segundo os dados tornados públicos, tem sido um enorme sucesso (em termos de procura e ultrapassando largamente a oferta) a corrida à compra de acções da OPV da Galp, entre os pequenos subscritores e o público
Estamos perante um paradoxo, surpreendente como todos, em termos do bom senso do mercado, considerado o supremo regulador da nossa felicidade económica. Ou o mercado interno anda a apanhar “balões” e a comprar gato por lebre e nem lhe passa pela cabeça o que se passa nas entranhas do “bicho”. Ou o negócio das acções da Galp é mesmo atractivo e de futuro e os que lá trabalham embirram com a sopa que comem.
Os senhores liberais que me expliquem do alto dos seus talentos. Se fizerem o favor.
“A maneira como caiu o anterior regime – um acto de força de rebeldes militares – determinou, por seu turno, o que aconteceu depois. Tivesse a descolonização sido feita por um governo estável, sufragado por Forças Armadas disciplinadas e coesas, e ter-se-iam evitado os excessos e os delírios militares e cívicos do pós-25 de Abril, na Metrópole e no Ultramar. Não o tendo sido, a sequência foi a que muitos títulos tivemos de lamentar. A pressão acumulada em quase meio século de ditadura libertou-se por explosão. O poder político perdeu o controlo sobre o poder militar. E o poder civil emergente, de avanço em avanço, acabou por sobrepor-se aos demais poderes. A descolonização acabou por ter de ser feita sem suporte militar, sem verdadeiro suporte político, em clima de anarquia civil.”
(Do livro “Quase Memórias – Do colonialismo e da Descolonização” (2 volumes), António Almeida Santos, Edições Casa das Letras)
“A verdadeira defesa dos descolonizadores tinha de revestir a forma de uma outra acusação. Essa dirigida aos responsáveis pelo ocaso do regime colonial, irrealistas, irresponsáveis e fanáticos o bastante para terem criado a incontrolável situação existente em 24 de Abril de
“Foi ela a causa próxima do movimento revolucionário de 25 de Abril, no fundo para que os nossos militares evitassem uma desonrosa derrota na frente da Guiné, a que fatalmente se seguiria o desabar do castelo de cartas dos outros territórios coloniais em guerra, e não apenas. O trauma da forma como se havia perdido Goa, Damão e Diu funcionou em pleno.”
“Foi a teimosia cega do então primeiro-ministro que “encomendou” o livro “Portugal e o Futuro”, do general Spínola, e este a bandeira que fez saltar os capitães de Abril.”
“Tão prisioneiro estava Marcelo Caetano da extrema-direita militar e política, e da visão senil do Presidente da República, além de prisioneiro da sua proverbial falta de coragem, que o não deixava seguir o rumo das suas próprias convicções. Ao mesmo tempo que dizia preferir uma derrota militar na Guiné ao início das conversações com o PAIGC, abriu à socapa estas mesmas negociações, na base de uma independência directamente negociada com os seus dirigentes, só não concretizadas porque os militares de Abril, a leste desse facto, resolveram antecipar-se e pôr os Chaimites na rua. Tão prisioneiro, de facto, que igualmente no maior segredo chegou a conceber, de gorra com o então governador-geral de Angola, Engº Santos e Castro, um esquema artificial e espúrio de independência branca para Angola, só frustrada, essa também, porque o 25 de Abril se antecipou ao desfecho.”
(Do livro “Quase Memórias – Do colonialismo e da Descolonização” (2 volumes), António Almeida Santos, Edições Casa das Letras)
Ainda sobra muito fogo de paixão a aquecer o tema. E os enlaces contraditórios e incompletos das vivências, ainda demasiadamente ideologizados, toldam grande parte da memória. Assim, a história da colonização e da descolonização, terá de esperar mais pela distância que repouse a poeira da emotividade. Mas, pelas leis das vidas, há, no mínimo, que não perder os testemunhos e os depoimentos dos seus actores, os principais e os secundários. Mesmo que a síntese (as sínteses), assim como os julgamentos históricos, fiquem para depois.
Almeida Santos foi uma figura chave no processo da descolonização portuguesa. Sobre a sua figura e o seu papel, acumularam-se muitos clichés de ressentimento, redundando muitas vezes na mentira, na infâmia e na calúnia. A par de Mário Soares e outros, foi fixado no papel de “bode expiatório” dos males, dramas e erros que afectaram a diáspora africanista. E não só, pois acumulou muito juízo severo dos que defenderam, então, uma descolonização mais rápida e mais
Para além dos contributos factuais, numerosos e circunstanciados, com que contribuem os dois volumes do livro de Almeida Santos, eles, porque foram escritos com enorme e corajosa frontalidade, revelam que esta personagem fulcral do processo de descolonização, nunca tendo beneficiado de uma projecção mediática à altura da sua estatura, o que em muito se deveu a ser avesso a ribaltas de protagonismo e à sua maneira de ser mais reflexiva e ponderada que exaltante e exaltado, é em si mesmo um excelente exemplo dos tempos contraditórios entre as personalidades e das personalidades que reconstruíram a democracia portuguesa. Que, imperativamente, tinha de liquidar um império colonial inviável e insuportável.
Almeida Santos era, em si mesmo e antes da revolução, uma figura contraditória. De pensamento e acção anticolonial e antifascista, no campo do reformismo moderado, era parte integrante da burguesia colonial moçambicana e perfilhou publicamente teses federalistas que não se distinguiam, na essência, daquilo que Marcelo Caetano em tempos defendera. Avesso à brutalidade colonial e à loucura da teimosia integracionista, não era, nem de longe, um pró-frelimista. Como nunca foi um revolucionário, antes sendo dado às formulações e soluções legalistas e que alicerçava na sua longa e bem sucedida prática da advocacia. E a sua chamada aos governos revolucionários (ditos provisórios) para a pasta da descolonização terá tido a ver com as ilusões spinolistas e outras de que havia uma saída federalista para o drama colonial. Foi a dinâmica da história, da revolução, das pressões e das contrapressões, que gerou um caudal
Quanto ao conteúdo dos dois volumes, pese embora perpassar uma visão muito pessoal sobre a revolução e a descolonização, discutível enquanto tal, todos os vários casos de descolonização estão suportados em factos (muitos deles, inéditos do grande público alheio à grande política) abundantemente documentados e que constitui um acervo de fonte histórica fundamental. Para quando chegar a hora dos historiadores pegarem, com método e distância, no assunto. Para além da riqueza dos factos, vividos por dentro, o aspecto mais impressivo do livro é a lucidez nunca perdida de que nada se entenderá sobre a descolonização sem se olhar para o colonialismo português e o crime da sua teimosia na utopia de querer eternizar, sem medir preço e vítimas, um império muito além do prazo de validade.
(*) – “Quase Memórias – Do colonialismo e da Descolonização” (2 volumes), António Almeida Santos, Edições Casa das Letras.
Até no assunto dos mísseis, há-os bons e maus. Como grandes e pequenos. Por exemplo, este “modelo de arma de dissuasão apontada pelas grandes potências ao coração do prevaricador”, lançado na blogosfera pelo criativo e sempre inspirado CSA, a que categoria valorativa pertence?
Se interpreto bem o sentido das sondagens que dão classificações positivas de topo a Cavaco e a Sócrates, quem vai ganhar o concurso televisivo dos “grandes portugueses” vai ser o Botas. Não porque os três indivíduos se assemelhem entre si. Apenas por esse fundo gosto português por quem mande com autoridade e teimosia. Mais que por aquilo que faz e para onde nos empurra. Que mande. Nos mande. Porque gostamos de ser mandados. Sempre gostámos.
A Economia ainda não está preparada para valorizar a micro-economia. Ou, afinal, a Economia ainda só é macro-economia. Estas deduções de bolso faço-as pelo facto de o Prémio Nobel atribuído a Mohammad Yunus e ao Banco Grameen, ter sido o da Paz e não o da Economia.
A visão empreendedora de Mohammad Yunus, na área do micro-crédito, resultou exactamente porque é um muito bem preparado economista e teve percepção genial de uma fatia de mercado financeiro desaproveitado (nem como nicho era encarado) e que podia envolver muitos milhões de pequenos investidores de pequeníssimas poupanças que somadas dariam somas consideráveis. Para mais, como factores sedutores de símbolos sociais (o que ajuda sempre um bom negócio) numa actividade puramente financeira, apareciam os aliciantes de aliviar a pobreza de muito pobres e dirigir-se preferencialmente à gestão empreendedora de mulheres. Tudo, assim, justificativo para que Yunus e o Banco Grameen merecessem o Nobel da Economia. Porque de mestria em economia se tratou e trata. Aliás, a Comissão Nobel diz isso mesmo quando fundamentou o galardão: «Todo e cada indivíduo no mundo tem o potencial e o direito de viver uma vida decente. Em várias culturas e civilizações, Yunus e o Banco Grameen têm demonstrado que mesmo os mais pobres dos pobres podem trabalhar para o seu desenvolvimento».
Seria demais esperar que a fortaleza solene da Economia integrasse como feito de um dos seus um caso de sucesso financeiro na área da micro-economia e do micro-crédito. Tanto mais que fazia entrar os muito pobres como alvos e beneficiadores de operações financeiras no mundo reservado aos grandes problemas, aos grandes empreendedores e às grandes soluções para o mundo. Quando, como tantas vezes se diz, a Economia não é coisa que os estúpidos entendam. Esses gramam-na, não riscam.
Mas se o Banco Grameen meteu milhões de pobres, sobretudo muito pobres, através do micro-crédito, a deixarem de ser tão pobres quanto antes, por uma via pura e ortodoxa de capitalismo, o mérito de Yunus não pôde deixar de ser assinalado com direito a Prémio. No caso, deram-lhe o da Paz, sob a justificação de que, com menos pobres, baixa o risco de termos mais guerras. E assim todos nos entendemos. A Economia continua assunto da macro-economia, os assuntos dos pobres é do pelouro das vias exploratórias para que não armem zaragata. Ou seja, assunto de guerra ou de paz. Evidente e descarado. Sedutor, embora filisteu, também.
A Comissão Nobel podia, já agora, ter sido mais explícita. Por exemplo, justificar o Prémio a Yunus pelo seu contributo à Paz nas Ideologias. Explicando, preto no branco, que o mérito do insigne e bem sucedido economista do Bangladesh foi mostrar que, para descrédito de Marx e Lenine, os pobres se podem emancipar (e acalmar) pela via capitalista. Sem guerras, revoluções ou exigências de distribuição mais equitativa da riqueza. Sobretudo, sem atropelos à Economia.
Segundo a jornalista Anabela Fino:
Evidentemente que Luis Carmelo é um homem de liberdade e pela liberdade. Mas, como homem de cultura, tem obrigações especiais na lide com as palavras sobre a liberdade, particularmente sobre a liberdade dos outros.
Num post sobre a manif de quinta feira, organizada pela CGTP/PCP, Luís Carmelo narra um episódio de incomodidade sua provocada pelos transtornos provocados pela marcha dos manifestantes pelas ruas de Lisboa. Até aqui tudo bem. Mas, naquilo que suponho ser um arremedo infeliz de irritação devida ao transtorno pessoal, acaba por fazer uma proposta de espantar: “Por que não se enquadra, nestes casos, a mais do que legítima liberdade de expressão num dos estádios de Lisboa? “.
Nota-se que a posição de Luís Carmelo conjuga uma irritação pessoal com uma outra, a de antipatia política para com a natureza e objectivos desta manifestação. As duas são legítimas. E tanto como são as “irritações” exprimidas pelos manifestantes para com o governo. Não mais nem menos.
Uma manifestação pública, desde que legal, tem de ser realizada na via pública, cumprindo um itinerário previamente comunicado às autoridades. Uma manifestação pública realizada na via pública inevitavelmente incomoda os utentes da via pública incluída no percurso da manifestação pública durante o seu decurso. Sendo, como no caso, altamente e antecedentemente publicitada, só os muito distraídos ou azarados se enfiam, em trânsito, no sítio errado na hora errada. O que não invalida que restem ainda inconvenientes resultantes do efeito de escala do congestionamento de trânsito, sobretudo se o número de manifestantes for numeroso (como foi o caso). Mas o mesmíssimo acontece nas greves de transportes, numa greve de carteiros, numa greve de trabalhadores do sector de energia, etc. É da natureza dos efeitos destes exercícios de “mais do que legítimas liberdades”.
Aparenta ser um tique autoritário e historicamente regressivo defender a imposição de medidas condicionantes, para além das legalmente estabelecidas, ao uso de qualquer “mais do que legítima liberdade”, em que se incluem as de manifestação e de greve. Querer enfiar manifestantes para dentro de um estádio de futebol, para que não incomodem os não manifestantes, é pretender restringir o direito à manifestação, substituindo-o pelo direito ao comício. Para mais, e os símbolos contam muito, essa de enfiar os que protestam em estádios de futebol traz sinistras lembranças (como a da foto tirada no Estádio Nacional de Santiago do Chile em 1973…).
Declaração de interesses: Na quinta-feira passada não pertenci ao número dos que incomodaram a vida do Luís Carmelo. Voluntariamente, não fui manifestante. Por razões de análise política muito aparentadas às invocadas pelo blogo-companheiro incomodado. Mas daqui a achar que as manifestações permitidas devem ser aquelas com que se concorda… vai a distância de conceitos diferentes sobre o exercício das liberdades, a nossa e as dos outros.
Resposta de Luís Carmelo, enviada por mail:
"Acabo por estar de acordo, confesso. O que disse, disse-o a quente, mas é evidente que não há conceitos que me afastem dos que subjazem ao seu texto crítico que aplaudo (com excepção para a infeliz homologia com a subliminaridade fascista do Chile de 73). Aprecio a liberdade de liberal.”
Sobre este post, o Pepe comentou com um bem elaborado texto-síntese de exercício do “contraditório” e que passo a transcrever:
“Claro que o futuro lhe pode dar razão, mas parece-me que a experiência democrática turca tem tido desenvolvimentos animadores, principalmente a partir do momento em que o actual partido está no poder. A contradição da república laica e "ocidental" ser defendida/imposta pelos militares sempre foi um elemento perturbador, podendo degenerar rapidamente em ditadura (como já aconteceu mais que uma vez) ou ser posta em causa pelas tendências pró-religiosas que instrumentalizassem o populismo democrático por oportunismo táctico. Ora, a evolução destes últimos anos tem sido positiva: os militares toleram os religiosos no poder, estes fazem da integração na Comunidade Europeia um objectivo prioritário. Entendo que existem razões para a Comunidade manter a Turquia na rota da integração, colocando obviamente as condições que são essenciais e não sujeitas a negociação, ou seja, aquelas que são comuns aos outros países que têm entrado na Comunidade. Provavelmente, estas exigências serão o álibi para os "religiosos" e os "nacionalistas" poderem pressionar os religiosos/nacionalistas puros e duros a aceitarem as reformas ou sujeitarem-se à marginalização política. Que isso levará uma década não me custa a crer, porém todos ganharíamos com um processo tranquilo, evolutivo e irreversível. Nesse sentido, a iniciativa francesa surge como uma provocação de certos sectores para boicotar esse processo, já que não vejo porque há-de a França colocar o tema do genocídio arménio ao nível da acção criminal. Como iniciativa parece-me original, aparentemente gratuita e favorável às reacções dos tais religiosos/nacionalistas puros e duros que agradecem a provocação.”
Vamos por partes.
No que respeita aos argumentos favoráveis à integração da Turquia na UE para que a “intolerância turca” não marque pontos perante a “tolerância turca”, seja equilibrado o jogo de partilha interna de poderes entre militares, religiosos, laicos, modernos e arcaicos, com efeitos num eventual desafogo geo-estratégico favorável e amortecedor nos conflitos democracias-islamismo, não só não os aceito como medida desigual/especial de adesão europeia como entendo que o oportunismo subjacente (também paternalismo?), já precedentemente revelado com a pertença da Turquia à NATO, faz não só baixar a bitola do “comportamento europeu” como se revela discriminatório perante outras nações que estão de quarentena à espera da entrada na UE. Com os mesmos critérios, mesmo sem necessidade de tanta condescendência, porque raio a Ucrânia, a Sérvia e a Croácia (que em todos os aspectos, pesem embora as suas imperfeições internas, estão mais próximos do funcionamento das democracias europeias consolidadas) hão-de merecer tratamento mais exigente que os defendidos para com a Turquia? E segundo critérios geo-culturais-políticos mais mitigados do conceito de Europa, porque será que Israel, Egipto, Tunísia e Marrocos devem ficar atrás na fila relativamente à Turquia? Em todos estes exemplos dados, metê-los “dentro da UE” não preenchia a mesma estratégia, “melhorando-os”, que a pretendida para com a Turquia? A grande diferença, como claramente o disse Pacheco Pereira, não assenta, afinal, numa especial condescendência pró-turca por causa do exército turco e o papel de “Legião Estrangeira” que ele pode desempenhar face ao islamismo agressivo? Parâmetro que, aliás, sempre justificou a sua entrada na NATO e, além de ser um argumento de elogio ao militarismo que repugna como “valor europeu”, lembra outro triste e sombrio exemplo histórico – o da utilização (massiva e decisiva) por Franco para ganhar, na guerra civil de Espanha, a “cruzada” do catolicismo contra a democracia, dos “mouros muçulmanos” transportados de Marrocos.
Quanto à iniciativa parlamentar francesa do projecto de lei de penalizar a negação do genocídio dos arménios, concordo que ela vale pelo seu valor simbólico. Muito discutível, de facto, esta iniciativa dos deputados socialistas franceses. E, indubitavelmente, mais provocatória que consistente. Também comportando o risco de desencadear generalizações e extensões de tipo paranóico. Tanto que é quase certo que ela não vai passar nos seguintes processos de homologação (pelo Senado e pela Presidência da República). Neste domínio, convém, no entanto, ter em conta dois factores atenuantes e parcialmente justificativos – primeiro, é um gesto de honra e homenagem perante as centenas de milhares de descendentes da diáspora arménia que se refugiou em França em fuga do genocídio pelos turcos; segundo, esta lei essencialmente provocatória, por absurda, evidencia outro absurdo homólogo vigente e que os círculos pró-turcos tendem a esquecer ou fingir que esquecem (o célebre artigo 301 do Código Penal turco que pune com prisão quem, na Turquia, ofender a “identidade turca”, ou seja, lembrar os genocídios e perseguições contra arménios, curdos e cipriotas).
Escuto.
Porque raio numa Sexta Feira 13, dia de os supersticiosos não saírem à rua, tantos deles se juntaram em Fátima?
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