Hora de compras. Carrego para a semana. E o diálogo do costume. Não esquecer as bolachas. Daquelas integrais por causa do colesterol. É preciso azeite. Mas de baixa acidez. Faz-se um peixe assado para amanhã? Boa ideia. É verdade, já há pouco leite em casa. Ah, e o shampoo. Daqueles para cabelos secos, frágeis e espigados. As uvas não têm bom aspecto. É melhor comprar noutro sítio.
Agora é tempo de fila com carrinho atulhado. Um velho africano, carapinha já branca e rala, barba crescida, casaco de lã poído, arrasta uma neta por uma mão, enquanto a outra segura as suas compras um saquinho de gilletes descartáveis e um saco com meia dúzia de pequenos pães. É pouca coisa, posso passar à frente? Com certeza, passe lá.
A caixa do hiper faz a conta. Sete euros e sessenta. O velho africano, gestos lentos, tira do bolso um lenço de pano sujo com moedas atadas numa das pontas. Despeja as moedas junto à caixa. Uma dúzia de moedas. A mais valiosa era de um euro. A senhora da caixa diz-lhe que não chega para a despesa. Ele diz que prescinde do pão. Só leva as gilletes. A senhora explica que as gilletes eram o mais caro e que não dava. O velho africano troca de opção. Então levo só o pão. Quanto é? Sessenta cêntimos. Olhar desconfiado de quem acha caro. Confirma o preço no embrulho do pão. Batia certo. As moedas são contadas, uma a uma. O velho, olhar desconsolado, amarra as sobras das moedas de volta ao canto do seu lenço.
O velho africano sai com a neta segura numa mão, enquanto a outra agarra o saco, um saco com seis pãezinhos.